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Declaração do G20 desafia EUA e é uma rara vitória do multilateralismo

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Nascido de uma crise mas fragilizado por anos de tensões internas, o Grupo das 20 maiores economias alcançou este fim de semana uma rara vitória para o multilateralismo, ao ultrapassar o boicote e as objeções do seu membro mais poderoso, os Estados Unidos.

A África do Sul, presidente do G20 este ano, conseguiu reunir todos os países membros — exceto os EUA e a Argentina — para emitir uma declaração conjunta, ignorando os avisos de Washington e dissipando, pelo menos por agora, as dúvidas sobre o futuro do bloco.

Muitos duvidavam que Pretória conseguiria alcançar uma declaração, quanto mais abordar temas como o apoio às nações pobres perante as alterações climáticas e a dívida externa.

Esse sucesso reforçou um organismo que, durante anos, lutou para chegar a acordos significativos — e destacou o poder do multilateralismo numa altura em que parecia em declínio, segundo investigadores e delegados.

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“As notícias da morte do G20 são claramente exageradas”

O resultado enfureceu os Estados Unidos, anfitriões do G20 no próximo ano. A Casa Branca acusou a África do Sul de instrumentalizar a presidência para minar os princípios fundadores do G20, como o consenso unânime. Washington afirmou que o Presidente Donald Trump restauraria a sua “legitimidade” durante a presidência norte-americana.

A Casa Branca não comentou de imediato sobre a possibilidade de excluir a África do Sul dos eventos do G20 do próximo ano.

O parágrafo final da declaração foi cuidadosamente redigido, comprometendo os países a participarem nas próximas cimeiras no Reino Unido e na Coreia do Sul, mas apenas a “trabalhar em conjunto” sob a presidência dos EUA, afirmou um delegado sul-africano.

O Presidente Cyril Ramaphosa recusou uma proposta americana para entregar a presidência rotativa a um diplomata de nível inferior. A cerimónia ocorrerá agora esta semana entre representantes de cargos equivalentes.

A cimeira parecia comprometida desde o início, devido ao boicote de Trump, motivado por alegações falsas de que o governo sul-africano, liderado pela maioria negra, discrimina a minoria branca.

Um delegado sul-africano, que pediu anonimato por não estar autorizado a falar, disse que o acordo preliminar de sexta-feira provocou alívio entre os negociadores.

“As notícias da morte do G20 são claramente exageradas”, afirmou Josh Lipsky, responsável pela área económica internacional do Atlantic Council e ex-assessor do Presidente Barack Obama. “Em momentos de crise… o G20 estará lá — independentemente de quem lidera qualquer cimeira,” acrescentou.

A declaração abordou temas muitas vezes divisivos, como o clima e a energia renovável, e propôs o primeiro painel global para tratar a desigualdade.

“É a primeira reunião de líderes mundiais… que colocou a emergência da desigualdade no centro da agenda internacional,” afirmou Nabil Ahmed, diretor de Justiça Económica da Oxfam, citado pela Reuters.

Agradar ou enfrentar Trump?

Perante a hostilidade de Trump, os líderes do G20 tinham uma escolha: “Agradamos-lhe ou enfrentamo-lo?”, disse Michael Bociurkiw, do Eurasia Center do Atlantic Council. Optaram pela segunda.

“Os líderes estavam fartos”, afirmou. “Isto pode definir uma nova forma de lidar com Donald Trump”, opinião partilhada por outros delegados.

O gesto de unidade de sábado visou apoiar os anfitriões e contestar a recusa dos EUA em participar na primeira cimeira do G20 em solo africano, explicou um responsável.

Outro delegado observou que as ações dos EUA aproximaram países tradicionalmente em conflito com Trump, como Índia e África do Sul, e outros que procuram manter boas relações, como o Reino Unido e França. Mas com os Estados Unidos a assumir agora a presidência, existe o risco de muito do trabalho realizado em Joanesburgo ser desfeito.

Washington deverá restringir o enfoque do G20, concentrando-se apenas na cimeira de líderes e no fórum financeiro, eliminando grupos de trabalho e reuniões ministeriais sobre energia, saúde e ambiente, informou uma fonte conhecedora dos planos.

“Os Estados Unidos estão ansiosos por enfatizar o crescimento económico, a desregulamentação e a abundância energética como pilares-chave do seu ano como anfitriões do G20 em 2026”, afirmou um porta-voz do Tesouro norte-americano. “Uma abordagem básica no G20 já vem com atraso.”

O Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial continuarão convidados, mas Washington planeia excluir organizações das Nações Unidas, acrescentou a fonte.

Ainda assim, a presidência é apenas de um ano. No pior cenário, afirmou um delegado, os países poderão “manter-se discretos” durante o mandato dos EUA e retomar os trabalhos depois.

Apesar das divergências, a agenda americana coincide com a sul-africana em áreas-chave como desenvolvimento, crescimento económico e estabilidade financeira, nota Eric LeCompte, conselheiro da ONU e diretor da organização Jubilee USA Network.

“Acredito que haverá continuidade em certas áreas com os EUA a assumir a liderança,” concluiu.


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