
Skims colocou Merkins de volta no mapa da moda. Aqui está uma breve (e peluda) história da peruca púbica

Crédito: Unsplash/CC0 Domínio Público
A marca de roupas de Kim Kardashian, Skims, conhece bem uma campanha polêmica. Nos últimos anos, a Skims ganhou repetidamente as manchetes por lançar produtos que causam divisão, como sutiã de mamilo e shorts que aumentam o quadril.
Seu último lançamento não é exceção. Na semana passada, a marca anunciou o lançamento de uma micro tanga de cabelo sintético de A$ 70, disponível em doze variações diferentes de cores e texturas de cabelo. O produto foi corretamente identificado como merkin – uma peruca púbica ou peruca para a região púbica.
Embora esta controversa tanga tenha sido lançada como parte de uma campanha temática dos anos 1970, a história do merkin remonta a muito mais tempo.
Doença venérea
Acredita-se que o merkin tenha se originado no período moderno na Europa. O Oxford Companion to the Body data sua estreia em 1450, embora sua origem exata permaneça contestada.
O que se sabe ao certo, porém, é a função desta curiosa peça de roupa. No final do século XV, uma grande epidemia de sífilis varreu a Europa. O surto inicial ficou conhecido como “Grande Varíola”. Isso levou à morte e à desfiguração generalizadas, antes de se tornar menos virulento nos séculos posteriores.
Como explicam o historiador Jon Arrizabalaga e colegas: “Em alguns casos, os lábios, nariz ou olhos foram comidos, ou em outros, todos os órgãos sexuais”.
As perucas púbicas tornaram-se uma forma prática de esconder sinais da doença na região genital. Além de esconder feridas sifilíticas, os merkins poderiam ajudar a mascarar o cheiro de carne podre adicionando um pó com aroma de lavanda ao material.
Estima-se que, no século XVIII, um em cada cinco londrinos sofria de infecção sifilítica. Os registos de admissão nos hospitais e enfermarias de trabalho de Londres mostram que a sífilis era particularmente comum entre mulheres jovens, empobrecidas e, na sua maioria, solteiras, que recorriam ao sexo comercial para se sustentarem.
Sem nenhuma cura eficaz para a doença encontrada até o início do século 20, não é de surpreender que os merkins tenham sido usados para esconder sintomas indesejáveis.
Piolhos púbicos
As perucas púbicas também se mostraram úteis para prevenir a propagação de piolhos púbicos. A Inglaterra e a França lutaram contra infestações desenfreadas de piolhos já no século XVII. Raspar os pelos pubianos era, compreensivelmente, um método comprovado para prevenir infestações.
No entanto, essa aparência sem pelos carregava um estigma negativo, pois estava associada à presença de doenças e ao envolvimento prolífico com vícios.
As perucas púbicas ofereciam uma solução para esse perverso paradoxo da beleza da época, permitindo que as mulheres parecessem com a barba por fazer (portanto, saudáveis e limpas) enquanto eram barbeadas para evitar infestações e propagação de piolhos. As perucas podem ser fervidas ou mesmo assadas após o uso para garantir a esterilização.
Aparições na literatura
Embora a consciência cultural seja claramente anterior a ele, o primeiro uso registrado do termo “merkin” vem de Observations and Travel, de John Taylor, publicado em 1617. Ele aparece em uma lista satírica de produtos importados exóticos e indulgentes – como “símios, macacos, merkins, saguis” – sugerindo que já era reconhecido como uma mercadoria picante associada à vaidade e ao excesso.
O merkin continuou a aparecer em uma ampla gama de literatura do século 17, particularmente em obras obscenas, como o seguinte poema de 1661: “Ele a deitou no chão/Seus espíritos caíram em ferking/Seu zelo estava em um som/Ele edificou seu Merkin.”
Seu uso é mais comumente associado a profissionais do sexo, embora seja plausível que indivíduos ricos também se adornassem com merkins para preservar a aparência de beleza e saúde.
As perucas empoadas foram adotadas pela nobreza no século 18 para esconder a queda de cabelo e as deformidades resultantes da sífilis, por isso não é exagero imaginar que os merkins também teriam sido adotados.
Em 1786, o termo “merkin” entrou no léxico formal, definido no Dicionário Clássico da Língua Vulgar, de Francis Grose, como “cabelos falsificados para as partes íntimas das mulheres”.
Merkins hoje
À medida que a saúde pública melhorou e as atitudes da sociedade em relação à higiene mudaram, os merkins saíram de moda.
No final do século XIX, a maior parte deles havia caído na obscuridade e sobrevivido apenas como uma peculiar nota de rodapé histórica. Um exemplo é a conhecida fotografia falsa vitoriana de um suposto vendedor de merkin vendendo sua vitrine de perucas púbicas, que está circulando como se fosse uma imagem genuína do século XIX.
Embora a micro tanga Skims possa parecer uma novidade atrevida, o próprio merkin possui uma história de séculos – evoluindo de um acessório prático para uma declaração de moda provocante hoje.
A linha Skims de tangas “full bush” esgotou rapidamente logo após ser anunciada. Embora a empresa não tenha deixado clara a intenção por trás do produto, sua viralidade certamente gerou uma conversa mais ampla sobre a política de pêlos corporais.
Em muitos aspectos, mesmo estas conversas culturais reflectem as de séculos anteriores. A própria existência do merkin é a prova de que os pêlos do corpo das mulheres têm, durante centenas de anos, funcionado como um poderoso símbolo de saúde, sexualidade, moda e autonomia.
Fornecido por A Conversa
Este artigo foi republicado de The Conversation sob uma licença Creative Commons. Leia o artigo original.
Citação: Skims colocou Merkins de volta no mapa da moda. Aqui está uma breve (e peluda) história da peruca púbica (2025, 21 de outubro) recuperada em 21 de outubro de 2025 em https://medicalxpress.com/news/2025-10-skims-merkins-fashion-hairy-history.html
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