
“Já não faz sentido.” Sánchez propõe acabar com a mudança da hora na UE
Quem fizer anos no próximo domingo, 26 de outubro, recebe como presente uma hora a mais de aniversário. É nesta data que calha, este ano, a mudança da hora de verão para a hora de inverno. Mas, se a vontade de Pedro Sánchez for avante, e conseguir convencer o Conselho Europeu, pode ser a última vez que acontece. Quem sabe? Na data prevista para voltarmos ao regime de verão, a 29 de março de 2026, esses aniversariantes poderão já não receber a fava (ter menos uma hora para festejos).
A discussão é antiga, divide opiniões, e esta segunda-feira vai ser discutida entre líderes da União Europeia à boleia de Espanha.
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“Como sabem, esta semana volta-se a mudar a hora outra vez. Francamente, já não faz sentido”, defende o primeiro-ministro espanhol, numa mensagem vídeo publicada nas redes sociais na manhã desta segunda-feira. “Em todas as sondagens feitas a espanhóis e europeus, a maioria está contra a mudança de hora.”
Assim, Pedro Sánchez anunciou que Espanha vai dar o passo em frente e obrigar os restantes estados-membros a discutir o assunto. Quando? Já esta segunda-feira, no Conselho de Transportes, Telecomunicações e Energia da União Europeia, que decorre no Luxemburgo. O tema não estava sequer na agenda, mas o secretário de Estado da Energia espanhol, Joan Groizard, leva essa missão na bagagem.
À chegada, disse aos jornalistas que pediu que o tema fosse incluído “para reabrir o debate sobre a mudança de hora”, que há anos foi posto em banho-maria.
Pedro Sánchez defende que “mudar a hora duas vezes por ano já não faz sentido”, já que “pouco contribui para poupar energia e tem um impacto negativo” na saúde e na vida das pessoas.
“Este é um debate antigo, porque o Parlamento Europeu votou há seis anos a favor de acabar com a mudança de hora. Assim, hoje o Governo de Espanha vai defender que se faça valer esse voto maioritário e que deixemos, finalmente, de alterar a hora em 2026”, afirmou Sánchez.
A data para propor a reabertura do debate não surge por acaso: a atual programação da UE sobre as mudanças horárias termina em 2026 e o ministro espanhol da Presidência, Félix Bolaños, considera que é o momento certo para voltar à discussão.
Citado pelo El País, Bolaños argumenta que o sistema atual já não cumpre os dois objetivos que motivaram a sua implementação em 1980: a poupança de energia e a harmonização do mercado comum. Em contrapartida, causam “perturbações no sono e nos hábitos de vida”. Assim, e porque quer dialogar com os parceiros europeus, Espanha leva “flexibilidade” para a discussão e não “uma proposta fechada”.
“O sistema energético está a mudar muito, e é importante reabrir o debate para encontrar uma solução que funcione o melhor possível”, esclareceu Groizard. “Temos consciência da diversidade europeia, mas consideramos essencial retomar a discussão e abordar uma questão importante para os cidadãos.”
Discussão remonta a 2018
Em dezembro de 2024, Donald Trump, presidente eleito dos Estados Unidos (ainda antes de tomar posse), dizia que o Partido Republicano ia fazer tudo o que pudesse para pôr fim à mudança da hora. O horário de verão está em vigor em quase todos os Estados Unidos desde a década de 1960, mas tem sido um tema de debate nos últimos anos, tal como acontece na Europa.
No continente europeu, e em concreto na UE, o tema é discutido há vários anos. Em 2018, a maioria dos europeus (80%) manifestou-se a favor do fim da mudança de hora, o que levou o então presidente da Comissão Europeia a pronunciar-se sobre o tema.
“Os europeus não nos vão aplaudir se continuarmos a mudar a hora duas vezes por ano. A mudança de hora deve ser abolida”, disse na época Jean-Claude Juncker. A Comissão Europeia pediu formalmente para se pôr fim às mexidas nos relógios em 2019, mas nada aconteceu. O motivo? Era preciso “uma discussão pública aprofundada” sobre o tema.
Apesar disso, em 2019, o Parlamento Europeu aprovou o fim da mudança de hora, com efeitos a 2021. De novo, nada sucedeu. “Não há novidades, o processo continua praticamente parado desde 2018”, admitiu ao El País uma fonte diplomática do Conselho da UE.
Em 2022, um grupo de peritos internacionais propôs o fim da mudança da hora na União Europeia e o alinhamento dos fusos horários dos diferentes países, aproximando-os o máximo possível da hora solar e tornando-os permanentes. E o que é que aconteceu? Nada, de novo.
Relógios atrasam uma hora no próximo fim de semana
Enquanto, não há decisão política, os relógios continuam a precisar de acertos duas vezes por ano.
No domingo, em Portugal continental e na Região Autónoma da Madeira, quando forem 2 horas da manhã os relógios devem ser atrasados 60 minutos, voltando a ser 1 hora. Na Região Autónoma dos Açores, a mudança é feita à 1 hora da madrugada, recuando os relógios para a meia-noite.
A hora legal voltará depois a mudar a 29 de março 2026, para o regime de verão.
O atual regime de mudança da hora é regulado por uma diretiva comunitária de 2000, que prevê que todos os anos os relógios sejam adiantados e atrasados uma hora — sempre no último domingo de março e no último domingo de outubro.
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