
Francisca Delarue: O Hospital em Casa como Modelo de Integração
Francisca Delarue apresentou o “hospital em casa” como um pilar da integração, humanizando cuidados agudos e provando a sua viabilidade e benefícios clínicos além da redução de infeções.
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A intervenção da Doutora Francisca Delarue trouxe para o debate uma perspetiva prática e inovadora sobre a integração de cuidados: a Hospitalização Domiciliária (HD). Começou por clarificar o conceito, distinguindo-o de outras valências como os cuidados continuados ou o apoio domiciliário. A HD é, na sua essência, “o internamento do doente agudo” que, possuindo indicação para ficar internado, reúne critérios clínicos, sociais e geográficos que permitem que esse internamento ocorra no conforto do seu domicílio.
A oradora partilhou a génese do projeto no Hospital Garcia de Orta (HGO), que em 2025 completará 10 anos. Inspirado por um modelo espanhol apresentado num congresso, o projeto foi pioneiro em Portugal e iniciado com o “olho de toda a gente” do SNS e da DGS sobre si. A Doutora Francisca destacou o papel fundamental do Dr. Delfim Rodrigues, com quem trabalhou lado a lado e que foi um incansável impulsionador da HD a nível nacional.
De forma clara e direta, respondeu às questões prementes sobre o modelo. À primeira questão – “A hospitalização domiciliária é um modelo de integração ou um serviço paralelo?” – a resposta foi perentória: “Sem dúvida que é um modelo de integração”. Esta integração materializa-se na forte ligação aos cuidados de saúde primários. No momento da admissão de um doente, é enviado um email para o seu médico e enfermeiro de família, e no momento da alta essa comunicação é reiterada, podendo inclusive ocorrer reuniões conjuntas no domicílio do doente para passagem de informação, nomeadamente em casos de feridas complexas.
Quanto aos benefícios, a oradora foi além da redução de infeções associadas aos cuidados de saúde, tão frequentemente citada. Enumerou vantagens clínicas e humanas profundas: a prevenção da perda de autonomia e da atrofia muscular nos idosos; a virtual ausência de quadros confusionais agudos (comuns no ambiente hospitalar); e a oportunidade única para a literacia em saúde. A equipa (médico e enfermeiro) passa em média 30-35 minutos por visita, um tempo que permite ensinar o doente e a família sobre a sua doença, medicação, alimentação e cuidados, algo impossível no contexto de uma enfermaria hospitalar lotada. A alta é também mais bem preparada e tranquila, permitindo organizar a medicação e esclarecer dúvidas com calma.
A Doutora Francisca apresentou dados nacionais robustos: mais de 52.000 doentes tratados, uma média de 9 dias de internamento domiciliário e 43 unidades ativas (a grande maioria no SNS), incluindo recentemente os Açores. Salientou, no entanto, um desafio crítico para a sustentabilidade: a rentabilidade. Uma unidade com apenas 5 doentes (como algumas têm) não é rentável. Para sê-lo, é necessário atingir um volume de pelo menos 10-15 doentes em simultâneo, o equivalente a uma “enfermaria em casa”. Atualmente, a sua unidade tem cerca de 24 doentes, demonstrando a viabilidade do modelo.
A sua visão para o futuro é ambiciosa: defende uma mudança de nomenclatura para “Hospital em Casa”, refletindo a expansão do leque de atividades para lá do internamento, como a realização de quimioterapia, transfusões de sangue (aguardando norma do Instituto Português do Sangue) e programas de reabilitação mais complexos. A HD é, assim, apresentada não como um serviço periférico, mas como uma peça central na redefinição do local onde os cuidados de saúde complexos podem e devem ser prestados.
RE/HN
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