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“Aqui temos carinho, amor e dão-nos qualidade de vida”: um dia nos Cuidados Paliativos do Santa Maria

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A enfermeira Clara Geraldes também já não se imagina a trabalhar noutra área. Entrou há 10 anos para a equipa. Foi em Oncologia que percebeu que não basta controlar a dor. Os doentes merecem ser olhados e ajudados de forma mais abrangente.

“Senti sempre a necessidade de ver o doente na sua complexidade total, com todas as suas necessidades. Apesar da Oncologia também ver o doente assim, acaba por se focar mais nos tratamentos oncodirigidos, e o doente ia sofrendo, por vezes, algumas degradações, descontrole sintomático, mas também problemas sociais, psicológicos. Senti a necessidade de uma equipa que abordasse o doente nesse todo, não esquecendo a família e o luto, que é importante e muitas vezes é esquecido.”

“Aqui funcionamos sempre a equipa, não é nada individual”, afirma, sublinhando o trabalho em rede que asseguram. “É importante a articulação que se faz com os cuidados de saúde primários. Sempre que um doente precisa, articulamos com os nossos colegas, por email ou telefone, sinalizamos a situação. E é assim que a saúde deve funcionar, para que os doentes estando em casa tenham cuidados de proximidade. As equipas comunitárias são os nossos olhos também. E mesmo com os doentes que temos de fora na nossa ULS também articulamos com outras equipas, para que o doente seja acompanhado onde estiver.”

Impacto nos profissionais. “Mesmo quem tem fé, às vezes, coloca em causa algumas coisas”

Alexandra Ramos Cortes é assistente social da Unidade Medicina Paliativa, e foi por sua iniciativa que se candidataram ao apoio privado para criar a equipa de apoio psicossocial. Há 18 anos foi uma das fundadoras da equipa intra-hospitalar. Garante que faz toda a diferença serem uma equipa multidisciplinar, que olha para o doente no seu todo desde a primeira consulta.

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“Fazemos sempre uma avaliação conjunta, por parte do médico e do enfermeiro. Automaticamente passa para um segundo momento, que é uma consulta de serviço social, para se fazer o diagnóstico social ao doente e à família, perceber todo o contexto social, familiar, laboral, relacional. Perceber até que ponto é que aquela pessoa está com capacidade de cuidar, quer cuidar deste seu familiar, e quer cuidar em casa, por exemplo. Vemos o que podemos fazer para que a família consiga efetivamente cuidar?”.

A coesão da equipa vê-se nos momentos mais difíceis, em que todos se apoiam mutuamente, sendo que um dos elementos é o assistente espiritual.

Há situações que são muito impactantes para cada um de nós, porque temos a mesma idade do doente, ou porque temos filhos da mesma idade, ou um pai ou uma mãe na mesma situação. A possibilidade de, em equipa, falarmos abertamente sobre o que estamos a sentir, porque é que nos impactou, é extraordinário! E depois, este recurso – neste caso em particular, o padre Fernando – parece-me a mim extremamente importante. Porque, mesmo quem tem fé, às vezes colocamos em causa algumas coisas, o sentido da vida e da morte, se é justo, ou não é justo. Faz parte. Às vezes a fé está mais lá no alto, outras vezes está aqui mais em baixo. Faz sentido partilhar, e é o que temos feito”.

O padre Fernando Soares confirma: “Até já brincámos, os que temos o contexto mais católico, dizemos ‘agora é o momento da catequese’”.

Desde o seu início que a Equipa Intra-Hospitalar de Medicina Paliativa inclui um assistente religioso ou espiritual. O padre Fernando, atual capelão do hospital, participa nas reuniões semanais e acompanha os doentes neste serviço e no resto do hospital. “Todos os dias. Temos de assegurar este apoio 365 dias por ano, 24 horas por dia”, sublinha.

“Com a equipa, temos o hábito de reunir à quarta-feira. Mas, sempre que há uma sinalização, seja de alguém que está cá internado, seja algum doente que vem à consulta, ou, como já tem acontecido, está no domicílio, se tiver necessidades espirituais ou religiosas faz-se o contacto com o padre da paróquia (de residência) para haver esse acompanhamento.”

Os pedidos são vários. Para receber a comunhão, confessar-se ou simplesmente conversar. Mas, o padre Fernando garante que é mais uma dimensão que faz a diferença na vida dos doentes e das suas famílias. “Sinto claramente que sim. Na verdade, não há dimensão nenhuma que aqui seja descuidada. Por exemplo o luto. Familiares que foram cuidadores continuam a ser aqui acompanhados, mesmo depois da morte do seu familiar doente. O cuidador não foi abandonado”, sublinha.


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