
Vírus transmitidos por mosquitos podem ter os anos contados. Equipa portuguesa do i3S participa na investigação
Os vírus transmitidos por mosquitos podem ter os anos contados, na sequência de uma investigação internacional, que conta com o contributo de uma equipa portuguesa do i3S.
A investigação já avança há cerca de um ano – de um lado e do outro do Atlântico – mas, a partir de agora, conta também com a participação de cientistas do i3S, liderados por Joana Tavares, investigadora do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) e professora do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, da Universidade do Porto.
“Nós vamos entrar agora em campo e é realmente uma oportunidade para Portugal contribuir, fazer parte destes consórcios de excelência”, afirma Joana Tavares, à Renascença. Trata-se de um projeto com um financiamento global que ultrapassa os oito milhões de euros e, deste bolo, a participação do nosso país será apoiada por uma fatia de 540 mil euros.
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A investigação, segmentada, reúne especialistas de virologia, imunologia, biotecnologia e saúde pública de países europeus e dos Estados Unidos. Uma união de esforços que pretende desenvolver, nos próximos três anos, uma vacina inovadora, apelidada de Flavivaccine. Se a investigação resultar, este escudo servirá para nos proteger dos vírus transmitidos por mosquitos com potencial epidémico.
Em entrevista à Renascença, Joana Tavares traduz o seu otimismo numa frase: “acho que no espaço de alguns anos vamos conseguir”.
Que projeto é este? Qual é o objetivo da vacina que este consórcio de investigadores europeus e norte-americanos pretende criar?
É uma vacina contra vírus que são transmitidos por mosquitos, nomeadamente os vírus causadores de doenças como dengue, febre amarela, zika ou vírus do Nilo Ocidental. Estes vírus têm em comum o facto de serem transmitidos por mosquitos. Isto significa o quê? Que a mesma espécie de mosquito pode transmitir vírus diferentes. E os mosquitos quando picam – para se alimentarem de uma refeição de sangue – vão introduzir saliva na nossa pele, para acederem aos vasos sanguíneos. E, juntamente com essa saliva vão os vírus.
O nosso objetivo é que esta vacina tenha como alvo esses componentes, que nós sabemos que favorecem a infeção. Portanto, pretendemos bloquear, neutralizar, a disseminação do vírus numa fase inicial, logo após a picada.
O i3S – Instituto de Investigação e Inovação em Saúde, da Universidade do Porto junta-se agora a esta investigação, que já está em curso há cerca de um ano, e reúne cientistas europeus de vários países, bem como cientistas norte-americanos. Qual será a parcela de trabalho da equipa que vai coordenar, em Portugal?
Temos de dividir a nossa contribuição em duas partes: Em primeiro lugar, como eu disse, esta vacina tem como base componentes da saliva do mosquito… e pretendemos perceber quais é que são verdadeiramente importantes, para simplificar ao máximo a vacina que vai ser desenvolvida. Portanto, nós vamos contribuir para descobrir que componentes é que são mesmo importantes para termos uma resposta protetora.
Vamos também contribuir para que estas vacinas sejam administradas na forma de RNA – mensageiro (Ácido Ribonucleico Mensageiro). Ou seja, tal como as vacinas da Covid, que foi possível produzir rapidamente e em grandes quantidades, porque são plataformas simples de produção de vacina. Portanto, nós temos duas componentes importantes no projeto que está em curso.
Na prática a sua equipa entra agora em campo, num projeto cofinanciado pela União Europeia…
É isso mesmo. Portanto, nós vamos entrar agora em campo e é realmente uma oportunidade para Portugal contribuir, fazer parte destes consórcios de excelência. Para a nossa investigação, para o i3S, vamos receber 540 mil euros, mas este projeto tem já financiamento global superior a oito milhões de euros.
Quando é que poderemos ter uma vacina que nos proteja das picadas, nomeadamente dos mosquitos, de eventuais doenças provocadas pelos vírus que nos colocam na pele?
Eu espero que não demore muito, mas o desenvolvimento de vacinas demora sempre algum tempo, como se sabe. Acho que no espaço de alguns anos vamos conseguir. É importante, sem dúvida nenhuma, que estas vacinas sejam realmente específicas para um determinado tipo de mosquitos, porque nós não queremos que o nosso sistema imune esteja a responder a qualquer picada de um mosquito, não é? Estas vacinas têm, acima de tudo, de ter uma eficácia elevada, ser seguras e bem desenhadas, sem dúvida nenhuma.
E a vacina, quando existir, será naturalmente administrada preventivamente, ou seja, antes da picada?
Sim, exatamente. Claro que estas vacinas serão depois administradas em função da percentagem de mosquitos que estão verdadeiramente infetados, e da capacidade que esses mosquitos, que estão infetados, transmitirem os vírus. Só depois é que avaliamos a necessidade ou não (de administrar a vacina). Certamente que irá variar, de região para região.
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