Atualidade

​A África Portuguesa 50 anos depois

Publicidade - continue a ler a seguir


Encetado o processo revolucionário do PREC, a descolonização foi o primeiro grande desafio do novo regime que começou a criar-se em Portugal em 1974, porque nenhum soldado queria continuar a combater nas colónias e nenhum português aceitava já ser mobilizado e despachado para África. Os federalistas moderados, como o presidente Spínola, que pretendiam uma descolonização gradual, mediante referendos locais à autodeterminação, depressa foram ultrapassados pela panóplia de forças civis e militares que exigia a retirada imediata de África, mesmo que isso conduzisse a um abandono caótico das colónias portuguesas, de cujo poder tomaram conta movimentos independentistas pró-soviéticos, e de cuja sociedade e economia 600 a 700 mil portugueses foram expulsos, dando origem à vaga migratória dos “retornados”.

Os resultados ficaram à vista: entre setembro de 1974 e novembro de 1975, a Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Moçambique e Angola içaram as suas bandeiras nacionais, antes de mergulharem, de forma mais ou menos visível e sangrenta, em guerras civis que se prolongariam pela geração seguinte. E quanto aos “retornados”, mesmo que a sua integração na sociedade portuguesa tenha sido globalmente pacífica, isso não faz esquecer como a suposta descolonização “exemplar” ou “possível” teve múltiplos aspetos trágicos, tanto em África como em Portugal, doravante confinado à sua estreita faixa continental europeia e regiões insulares. Foi o fim de um ciclo histórico com 560 anos, de que o Estado Novo tinha sido a última encarnação, determinando que a futura democratização se entrelaçaria com uma importante redefinição identitária de pertença à Europa, concretizada em 1986.

Como lidou e lida o país com essa memória? 70% dos inquiridos num estudo de 1978 (de Mário Bacalhau) concordavam que Portugal fizera bem em dar a independência às colónias, contra somente 2,2% que se manifestavam a favor da continuação da luta contra a resistência local. Ainda assim, 20% dos inquiridos consideravam que Portugal não poderia sobreviver economicamente sem a antiga África portuguesa.

Por encomenda da Comissão para as Celebrações dos 50 anos do 25 de abril, o CESOP da Universidade Católica levou agora a cabo um inquérito em que algumas questões quase repetem as de 1978. 86% dos inquiridos acham que Portugal fez bem em reconhecer as independências e somente 11% declara que Portugal as deveria ter rejeitado. Mas à pergunta se correu tudo bem na descolonização, 79% dizem «não» e só 13% dizem «Sim», culpabilizando maioritariamente o regime anterior a 1974 (38%) e os negociadores portugueses à época (20%). A opinião geral sobre a descolonização dos países africanos e sobre a integração dos “retornados” é mais positiva do que negativa – no primeiro caso 30% «Boa» contra 17% «Má», no segundo 32% «Boa» e 20% «Má». Mas à pergunta se os “retornados” deveriam ser indemnizados, 57% dizem «Sim» e 34% «Não». 50 anos volvidos, dos quais 40 já dentro da Europa comunitária, a descolonização é considerada “mais positiva do que negativa” nos planos político e cultural, e marginalmente “mais negativa do que positiva” no plano económico.

Publicidade - continue a ler a seguir

O inquérito do CESOP tem outros e importantes dados sobre o Portugal atual e a saúde da democracia vigente. No que diz respeito às independências da África portuguesa, o cinquentenário mostra que o fenómeno da descolonização não provocou grandes traumas identitários, nem a crise económica ou o isolamento que alguns temiam nos anos 70. Ainda assim, há uma perceção pública de que existiram erros e injustiças – e os números sugerem que as reparações serão mais devidas a quem de lá teve de fugir do que a quem lá ficou a mandar, e que das suas populações (mal) cuidou.


Source link

94,589Fans
287seguidores
6,774seguidores
3,579Seguidores
105Subscritores
3,384Membros
 Segue o nosso canal
Faz um DonativoFaz um donativo

Publicidade - continue a ler a seguir




Portalenf Comunidade de Saúde

A PortalEnf é um Portal de Saúde on-line que tem por objectivo divulgar tutoriais e notícias sobre a Saúde e a Enfermagem de forma a promover o conhecimento entre os seus membros.

Deixe um comentário

Publicidade - continue a ler a seguir
Botão Voltar ao Topo
Send this to a friend