
Paulo Macedo. “As taxas de juro vão descer menos que o previsto”
O Presidente da Caixa Geral de Depósitos admite mais descidas das taxas de juro mas em dimensão menor face ao previsto. A culpa é da pressão que as tarifas e outros fatores de mercado exercem sobre o valor do dinheiro.
“Temos pressões inflacionistas que são mais acentuadas, com as tarifas e com preços de commodities que valorizam, o que pode fazer com que as taxas de juros diminuam menos”, explicou Paulo Macedo na sua intervenção no Encontro Fora da Caixa, organizada no Funchal, onde a Renascença foi parceiro média.
O líder do banco público lembra que as taxas de juro do BCE estão já próximas da referência dos 2%. ” As taxas de juro ainda vai diminuir, mas também já não é muito mais. Isto, de qualquer maneira, representa um abrandamento grande nas exigências que são colocadas às famílias e às empresas”, complementa Paulo Macedo.
Aumento do poder de compra
O presidente do banco público anota que houve um aumento do poder de compra, com os ordenados nominais a subirem acima da inflação em 2024. “Menos taxas de juros, portanto, menos pressão de quem tem de comprar de casa. E alguma diminuição do IRS, designadamente, nos jovens”, são os fatores identificados pelo presidente do banco público.
“Isto dá mais algum poder de compra, e outra coisa que, para as pessoas, hoje em dia é muito importante: mais capacidade de endividamento”, analisa Paulo Macedo no sentido de um “paradoxo” de uma escassez de oferta de habitação, a par de, por outro lado, um crescimento “muito significativo” do crédito à habitação.
” A Caixa, no mês passado, concedeu sozinha 500 milhões de crédito de habitação num mês”, revelou perante uma plateia de gestores e empresários, a quem transmitiu ainda a ideia de uma melhoria da autonomia financeira das empresas. ” 2025 está a correr positivamente, mas com uma grande apreensão sobre o futuro. E, como sabemos, as expectativas são fundamentais”.
Uma era de incerteza
Numa apresentação sobre os “desafios de uma nova era”, o Presidente da Comissão Executiva da Caixa Geral de Depósitos, Paulo Macedo, defendeu que o dia da tomada de posse de Donald Trump marcou uma “nova era de incerteza” e uma “mudança radical da ordem mundial” onde ” não sabemos muito bem quem é aliado, ou quem é amigo, ou quem é parceiro”, com impacto nas contas públicas e nas opções políticas e orçamentais.
Paulo Macedo acredita que a guerra tarifária irá sempre deixar algum impacto. ” Há um défice americano que vai ter que ser pago. As tarifas e que isso prejudicam o crescimento mundial e, em última instância, os consumidores”. Na aposta na defesa, o banqueiro considera que “vai existir uma redundância se, de facto, os nossos parceiros continuarem parceiros”, concluindo que a duplicação de esforços nesse setor pode revelar-se “uma péssima alocação de recursos”. Conjugando ambos os fatores, Paulo Macedo aguarda um crescimento mundial mais lento.
Numa realidade acelerada -“90% de todos os dados foram gerados nos últimos dois anos” – o presidente da CGD assinala que houve um pico de incerteza ainda antes de possíveis ataques a instalações nucleares iranianas.
A importância de produzir mais e perto
O presidente do banco público considera que a inteligência artificial é um marco pela influência na eficiência, de prestação de serviço e de mudança de processo. “Acredito totalmente nas alterações e benefícios profundos da inteligência artificial”, declarou na sua intervenção no Encontro Fora da Caixa no Funchal.
Numa análise global sublinhou a subsistência de uma “grande vulnerabilidade” das energias renováveis, apesar de uma grande aposta no setor, e anotou oscilações do mercado do petróleo” muito maiores do que, por exemplo, a bolsa de valores”.
Em termos regulatórios, a equação mudou. “Aqui há uns anos, os Estados Unidos inovavam, a China copiava e a Europa regulamentava. Hoje já não é assim, porque a China também inova e muito. Mas nós continuamos a regulamentar”, assinalou Paulo Macedo.” É indiscutível que é necessário regulamentar. Mas primeiro era bom ter alguma coisa feita para regulamentar”.
O antigo ministro da saúde deteta uma alteração das cadeias de valor mundiais “outra vez relativamente ao Ocidente, quando a última alteração das cadeias de valor foi relativamente ao Oriente”. Macedo sublinha que ” produzir e produzir perto tem outra vez um valor muitíssimo maior do que fazer tudo em ‘outsourcing ‘ e depois pôr apenas a marca em cima”.
A Caixa quer mais
Sobre as contas da Caixa, Paulo Macedo lembra que em 2024 a CGD obteve
o melhor resultado de sempre das empresas portuguesas. “Mas o que interessa é que consegue fazer isto com a maior cobertura nacional dos grandes bancos portugueses e com uma melhoria da reputação”.
O líder do banco público revela ter pedido aos gerentes bancários que contactem mais empresas. ” Há centenas de milhares de empresas em termos nacionais. Numa época de crise, o que devemos fazer é dar a cara, não andarmos escondidos, não tentarmos passar entre os pingos da chuva, mas dizer com o que podemos contribuir”.
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