
“Não é determinante, mas seria importante que houvesse um Ministério do Desporto”, defende José Manuel Lourenço
Que impacto terá?
Cinco milhões destas verbas são para construir um edifício para alojar os serviços do Comité Paralímpico e também para ter um centro de investigação e inovação do desporto paralímpico. Acreditamos vai ajudar muito também na divulgação e no desenvolvimento do desporto paralímpico, acredito mesmo nisto. Depois sobram dez milhões e esses dez milhões são para diversos projetos: há a possibilidade de apoiar até 400 projetos de apoio ao desenvolvimento desportivo.
Se calhar temos aí uma possibilidade também de algum tipo de divulgação de informação. Ainda é um trabalho que nós vamos ter que fazer em conjunto com o IPDJ e com a Secretaria de Estado do Desporto. Hoje mesmo eu tive uma reunião com o presidente do Comité Olímpico e com o presidente do IPDJ e estivemos a analisar esta questão deste contrato-programa. Estou muito otimista relativamente à evolução deste projeto que eu creio que vai ter impacto no desporto.
O que é que espera do novo Governo, tendo em conta que este último teve este apoio tão significativo para o desporto?
Muito sinceramente, espero que o agente político, digamos assim, que tiver a tutela seja uma pessoa conhecedora do desporto. Se não for, pelo menos que conheça o desporto. Parece-nos uma vantagem, até pela experiência que tivemos aqui com o atual secretário de Estado, porque é uma pessoa que não teve necessidade de aprender o que é o desporto.
Quanto ao resto, o que eu espero é que, seja quem for o governo, o desporto não se mantenha o parente pobre da sociedade e que quando o governo eventualmente atribuir mais alguma verba ao desporto, não venham alguns setores da sociedade reclamar. Isso não é dito quando vai mais dinheiro para a cultura, antes pelo contrário, a sociedade aceita que mais dinheiro para a cultura é um investimento e é um bem muito positivo. Também tem que ser assim relativamente ao desporto, que haja esse entendimento e que a sociedade entenda que com o desporto não há um gasto, há um investimento, que também é um investimento na saúde, por exemplo.
Nesse sentido, acha que deveria existir um Ministério do Desporto? Nenhum dos programas eleitorais tem essa proposta, mas perante o impacto do desporto no país, merecia um ministério próprio?
Penso que os problemas do desporto não começam e acabam na falta de um ministério, mas, de facto, um ministro está no Conselho de Ministros e que esteja apenas preocupado com a tutela do desporto, penso que isso pode acrescentar.
Nós podemos ter um secretário de Estado, desde que lhe seja reconhecido o poder de influenciar as políticas. Não é determinante, mas era importante que houvesse um Ministério do Desporto. Mas não creio. Aliás, na nossa história, que eu me recorde, tivemos apenas uma vez, isto penso que quer dizer qualquer coisa.
Mudando de assunto, o Luís Costa foi suspenso por dois anos, ficou-se a conhecer a decisão final de um medalhado dos últimos Jogos Paralímpicos. Qual é a sua reação?
Eu não tenho muito a dizer, já falei sobre esse assunto. Acho que quando os atletas não cumprem aquilo que está estabelecido, as regras estão estabelecidas, existem penalidades previstas e o que tem de se fazer é aplicar as regras. No que diz respeito ao doping, não posso ser mais claro: é condenar de uma forma absolutamente veemente tudo aquilo que tem a ver com a batota desportiva. Não podemos aceitar de forma nenhuma e sermos tolerantes com a falta de fair play.
O Luís continua a referir que o produto terá vindo num suplemento alimentar, não conheço o processo, nem tenho de conhecer, mas penso que essa argumentação terá acolhido, pelo menos em parte, junto da UCI e é por essa razão que o castigo fica um bocadinho aquém do que seria expectável para este tipo de situações.
Para terminarmos, o que é que sonha para o movimento paralímpico e para o comité a longo prazo?
O melhor cenário é chegarmos à conclusão de que já não existem jovens no sofá e que estes jovens, aqueles que podem, estão todos a praticar desporto. Não conheço um jovem com deficiência que pratique desporto que não tenha um sorriso feliz, e normalmente o sorriso feliz contagia e contagia também dentro da família. O que mais me empenha é o tentar trazer mais jovens com deficiência à prática desportiva. E isso não significa ter campeões no sentido da medalha, mas podem ser campeões no sentido da atividade física, no sentido de não estarem num sofá a olhar para o nada, isso não é saudável.
É o nosso dever enquanto cidadãos tentarmos melhorar a qualidade de vida destes jovens, isso não deve ser apenas uma responsabilidade minha, apenas uma responsabilidade do Comité Paralímpico, das federações, mas sim da sociedade, até porque estes jovens com certeza que podem tornar-se, também através da prática desportiva, num ativo para o país, em termos de produtividade, por exemplo, na empregabilidade. Dessa forma também o mundo que nos rodeia fica melhor.
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