
Políticas públicas não convencem portugueses a mexer-se. Qual é o nível de exercício físico recomendado?
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Portugal foi o país da União Europeia que mais apostou em programas de promoção da atividade física, mas o efeito não foi o desejado. Numa década baixou o número de portugueses que atingem os níveis de atividade recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Esta é a conclusão a que chegou o estudo “Physical activity policy implementation and physical activity levels in the European Union: Are we on track to close the gap between policy and practice?” (“Implementação da política de atividade física e níveis de atividade física na União Europeia: Estamos no caminho certo para colmatar a lacuna entre a política e a prática?, em português).
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A investigação analisou a relação entre a implementação de políticas de promoção da atividade física na União Europeia e os níveis de atividade física da respetiva população, ao longo da última década.
O Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) fez parte da equipa que conduziu a investigação.
À Renascença, o investigador Romeu Mendes fala num quadro negativo e diz que não é por falta de empenho dos vários Governos: “Portugal não está no bom caminho para reduzir o fator de risco chamado inatividade física. Curiosamente, foi o país da União Europeia que registou o maior aumento absoluto de políticas públicas nesta área nos últimos 10 anos (mais de 50%), em contrapartida a população portuguesa com mais de 15 anos tem-se tornado cada vez mais fisicamente inativa”.
Neste estudo participaram, apenas, pessoas com mais de 15 anos, mas o médico sublinha que a falta de atividade estende-se aos mais novos – entre os 5 e os 17 anos – e os efeitos estão à vista nos indicadores de saúde. “Estamos cada vez com mais excesso de peso e obesidade. Estamos cada vez com mais proporção de pessoas com diabetes tipo 2 e estamos cada vez com mais proporção de pessoas com outras doenças associadas à inatividade física”, alerta.
Líder do Laboratório Atividade Física e Doenças Crónicas não Transmissíveis, Romeu Mendes admite que os portugueses são muito afetados pelos comportamentos associados ao estilo de vida dos países do Mediterrâneo. “Adaptamo-nos com facilidade ao conforto, nomeadamente, da tecnologia e do entretenimento em torno do ecrã e da posição ‘sentado’, e resistimos a andar a pé ou a usarmos bicicleta nas atividades da vida diária”, sublinha.
UE falha meta de atividade física da OMS
Portugal não é caso único. Entre 2013 e 2021, as políticas de promoção de atividade física aumentaram 13% na União Europeia, mas isso só resultou em pouco mais de 1% de pessoas com níveis suficientes de atividade física.
Um dos motivos para esta discrepância, diz Romeu Mendes, é a falta de mecanismos para monitorizar e avaliar a efetividade das políticas implementadas. “As políticas devem ser avaliadas de acordo com o impacto que têm nos indicadores de saúde que queriam alterar. Neste caso, uma política pública para promover a atividade física tem de ser avaliada perante a pergunta: aumentou ou não aumentou a atividade física do Público-alvo?”
Fica assim mais longe a meta estabelecida pela OMS para reduzir a inatividade física em 10% até 2025. Só 13 países da União Europeia estão a registar progressos importantes nessa direção, nomeadamente, Áustria, Bélgica, Bulgária, Chipre, Chéquia, Estónia, Finlândia, Itália, Lituânia, Luxemburgo, Letónia, Países Baixos e Eslováquia.
Não chega ir ao ginásio antes do Verão
Mas, afinal, qual é o nível de atividade física recomendado?
Segundo Romeu Mendes, para um adulto “o ideal é fazer atividade física que o retire da sua zona de conforto, que aumente a sua frequência cardíaca e a respiração, no mínimo, 30 minutos por dia ou uma hora dia sim, dia não, ou seja, é um acumulado semanal médio de 150 minutos”.
Para as crianças – entre os 5 e os 17 anos – o recomendado são 60 minutos de atividade física por dia, portanto, o dobro da dose de um adulto, o que leva o investigador a lembrar que nas escolas portuguesas “a oferta da disciplina de Educação Física não vai além de duas ou três horas por semana”.
Nos últimos anos temos assistido a um “boom” de ginásios, de todos os tipos e, aparentemente, para todos os bolsos. Mas o médico diz que não é bem assim.
“Quando vamos ao ginásio, vemos as pessoas e achamos que está tudo em movimento, mas isto é, apenas, a nossa bolha. Temos de nos lembrar que quem vai ao ginásio paga para lá estar e está motivado, mas a realidade é que há muitos milhões de portugueses lá fora, alguns deles em situações económicas difíceis e em situações sócio-demográficas vulneráveis, que representam a maioria da população portuguesa e essa maioria da população diz que não tem condições para ser fisicamente ativa.”
E depois, lembra ainda Romeu Mendes, mesmo essas pessoas que vemos encherem os ginásios em abril, maio ou junho, “provavelmente, não estarão lá em novembro, dezembro e janeiro. Isto quer dizer que há uma sazonalidade associada à prática do exercício físico e do desporto, quando a nossa atividade física deve ser diária, porque nós temos saúde ou doenças para gerir todos os dias do ano”.
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