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Fardas do Exército português são compradas no estrangeiro, lamenta setor têxtil

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Com a União Europeia empenhada em reforçar a despesa em Defesa, onde se inclui Portugal, a indústria têxtil reclama que olhem mais para a produção nacional e que o mais barato deixe de ser o principal critério dos contratos públicos.

Em entrevista ao programa Dúvidas Públicas, da Renascença, o presidente da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP) lamenta que as fardas do Exército português sejam compradas no estrangeiro. Segundo Mário Jorge Machado, os contratos nem sequer ficam na Europa, são entregues a países terceiros, porque o critério seguido é o preço mais baixo.

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Ao mesmo tempo, Bruxelas tem alertado para o aumento das compras dos consumidores europeus fora do espaço comunitário, através da internet. Em causa estão as chamadas encomendas de baixo valor, até 150 euros, que no último ano terão atingido 4,6 mil milhões de euros. Mais de 90% vieram da China.

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Mário Jorge Machado diz que estas estimativas são feitas por baixo. Há números que apontam para cinco vezes mais, 40 aviões por dia com encomendas. Não há dados oficiais que indiquem o impacto destas vendas chinesas na indústria têxtil. Em Portugal está a decorrer um estudo, uma parceria entre alguma imprensa e a indústria, que deverá produzir resultados dentro de algumas semanas.

A indústria nacional conta ainda ter, em duas semanas, conclusões das análises que estão a ser feitas ao vestuário vendido pelas grandes plataformas chinesas, como a Shein e a Temu. Um dos objetivos é verificar se cumprem as regras de segurança, que proíbem o uso de vários produtos químicos nos têxteis europeus.

Em causa está ainda uma potencial evasão fiscal em larga escala, porque os produtos abaixo de 20 euros não pagam IVA. No entanto, estas encomendas chegam sem fatura que comprove os valores da compra.

Nesta entrevista ao programa Dúvidas Públicas, o presidente da ATP admite, ainda, que as exportações da indústria têxtil nacional estão a cair, mas há países com piores resultados. Por isso, conclui, que o setor ganhou quota de mercado.

Hoje em dia, a indústria têxtil nacional conta com cerca de seis mil empresas e 130 mil trabalhadores. Mário Jorge Machado rejeita que se mantenha uma indústria de baixos salários: pagam dentro da média, garante. A carga fiscal também não permite pagar melhor, sublinha.

Vamos pagar pela reciclagem da roupa. Preço pode aumentar até 30%

Há países onde o preço final das peças de vestuário já inclui o custo da reciclagem, como em França. Mário Jorge Machado diz à Renascença que em Portugal este custo deverá passar a ser cobrado a partir de 2026 ou 2027.

Em média, dependendo de fatores como o tipo de tecido ou as cores aplicadas, o tratamento e reciclagem de tecidos pode agravar o preço até 30%.

O presidente da ATP avisa ainda que Portugal já está em incumprimento, no âmbito das metas de reutilização e reciclagem para o têxtil até 2028. Em janeiro, devia ter entrado em funcionamento um sistema de recolha e triagem, mas ainda não está pronto.

Neste momento, menos de 1% das fibras que usamos e vestimos, volta a dar uma peça de vestuário. Cerca de 30% ainda é aproveitada, para fins menos nobres, mas a grande maioria é incinerada ou acaba em aterros. Um dos desafios é tornar as fibras recicladas mais competitivas, porque atualmente utilizar fios virgens é mais barato e tem melhor qualidade.

Mário Jorge Machado, presidente da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal e o primeiro português a liderar a Euratex – Confederação da Indústria Têxtil e Vestuário Europeia, é o entrevistado desta semana do programa Dúvidas Públicas. Um programa transmitido aos sábados, a partir do meio-dia, e sempre disponível em podcast, no YouTube e na app da Renascença.


Segundo dados do INE, em 2024, o setor têxtil exportou quase 5,6 mil milhões de euros em vestuário e têxtil-lar. Este valor tem vindo a cair. Face ao ano anterior, a descida é de 3,1%. Quais são as principais ameaças à indústria têxtil?

O setor têxtil em Portugal cobre muitas áreas. Está ligado à moda, mas também ao têxtil-lar, como referiu, tem muitas áreas técnicas (vestuário militar, para a saúde), também há a parte do automóvel. Para além desta abrangência, é um setor que está muito localizado na zona norte do Porto.

Tem cerca de seis mil empresas e 130 mil trabalhadores, vive sobretudo das exportações, os 5,6 mil milhões que referiu, num volume de negócios total de perto de 8 mil milhões. O mercado português tem alguma importância, mas está longe de ser o principal mercado deste setor, que está muito exposto à concorrência internacional.

Por exemplo, a guerra na Ucrânia influenciou diretamente aquilo que é o volume de exportações deste setor?

Claramente. E, às vezes, esquecemos que estamos numa economia de guerra. A Europa tem uma guerra dentro da Europa e isso tem vários reflexos. Eu podia apresentar estes resultados de uma forma, diria, muito positiva. Porque as importações da União Europeia, em termos de têxtil e vestuário, no ano de 2023 caíram 17% e as exportações portuguesas para a União Europeia caíram 5%. Ou seja, nós ganhamos muita quota de mercado. O mesmo está a acontecer com o ano de 2024. Nós caímos perto de 4%, mas as importações da União Europeia caíram perto de 8%.

Estão a diminuir as nossas exportações, mas estamos a ganhar quota de mercado, porque os outros países, fora da União Europeia, que concorrem com Portugal dentro do fornecimento destes diferentes países, têm vindo a perder mais quota de mercado. O que mostra que nós estamos a fazer bem. Estamos todos a perder, mas Portugal perde menos.

Por outro lado, há cada vez mais consumidores europeus a comprar pela internet. Segundo dados da Comissão Europeia, no último ano gastaram 4,6 mil milhões em compras de baixo valor, até 150 euros, fora da Europa. Mais de 90% veio da China. Tem alguma estimativa do impacto desta concorrência chinesa na produção nacional?

Esses números, provavelmente, são muito superiores àquilo que são as estimativas. Porquê? Porque a maior parte desses valores são estimativas. Grande parte dessas mercadorias estão a entrar na União Europeia debaixo da regra que nós chamamos de mínimos. Mercadorias inferiores a 150 euros não têm de fazer declaração alfandegária. Isso abre oportunidade para que as quantidades que estejam a entrar e o controlo desse tipo de mercadoria seja reduzido, para não dizer inexistente.


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