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Ordem quer pais com crianças até três anos a trabalhar menos duas horas por dia

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Médicos lançam petição para mudar a lei no Parlamento. A polémica prova de amamentação é uma das razões.

A Ordem dos Médicos (OM) quer que os pais possam acompanhar devidamente os filhos até que estes completem três anos de idade, sem terem que usar subterfúgios para contornarem a lei. Por isso lança oficialmente este sábado uma petição pública pela redução do horário laboral (menos duas horas por dia) da mãe ou do pai até que a criança complete três anos, citando estudos que indicam que até esta idade é fulcral que os progenitores tenham disponibilidade para acompanhar os filhos.

Não é a primeira vez que a Ordem dos Médicos faz esta proposta. Há menos de um ano, em Julho de 2015, o bastonário José Manuel Silva enviou uma carta para o Parlamento, para o primeiro-ministro e para o Presidente da República em que pedia o alargamento do direito de redução do horário laboral para amamentação (que já está previsto na actual lei) a todas as mulheres com filhos até aos três anos de idade. Mas não obteve respostas.

O que a Ordem pretende agora com a petição é que esta redução de horário (duas horas por dia) seja alargada até aos três anos do filho e a um dos progenitores, independentemente de a criança estar ou não a ser amamentada. Mas isso implica que haja uma proposta de alteração legislativa. As petições são discutidas obrigatoriamente no plenário da Assembleia da República quando ultrapassam as quatro mil assinaturas.

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No início, uma polémica

Em 2015, o bastonário da OM lembrou-se de avançar com a proposta de redução do horário laboral depois de duas enfermeiras terem relatado ao PÚBLICO que tiveram que comprovar que estavam a amamentar os filhos “espremendo as mamas“, de acordo com a expressão que usaram na altura, em frente a médicos de consultas de saúde ocupacional.

A redução do horário laboral — até duas horas por dia — já está consagrada no Código do Trabalho para efeitos de amamentação e até os bebés terem um ano de idade. Depois deste período, as mulheres são obrigadas a fazer prova, através de atestado médico, de que continuam a amamentar. Para evitar fraudes, alguns hospitais passaram então a pedir a tal prova de amamentação, procedimento que foi muito contestado depois de ter sido denunciado.

A OM avança agora de novo com a proposta mas em forma de petição pública, fundamentando-a com um parecer formulado pelo colégio de Psiquiatria da Infância e da Adolescência. Intitulada Petição pelo direito à redução do horário de trabalho para amamentação/acompanhamento de filhos até aos 3 anos de idade, em duas horas diárias, por parte de um dos progenitores, a proposta conta também com o apoio de um grupo de mães que há um mês avançou com uma iniciativa similar, e que conseguiu até agora cerca de duas mil assinaturas.

Aurora d’Orey, 36 anos, mãe de duas crianças pequenas, que idealizou a petição Projecto Mães – Licença de aleitamento até aos três anos, lançada em Março, explica por que se associa a esta iniciativa da Ordem dos Médicos: “O tempo de ligação entre pais e filhos só pode mesmo traduzir-se em reais benefícios para o desenvolvimento das crianças.”

“Era essencial reforçar esta iniciativa com uma petição que promova a alteração à lei em vigor. A situação demográfica do país não é animadora e tem de existir um incentivo consistente à natalidade, que passe pela legislação de direitos que são fundamentais”, sublinha o bastonário José Manuel Silva. Além disso, argumenta, esta medida “iria reduzir os custos e a pressão sobre os serviços de saúde, a imensa carga burocrática dos atestados e, consequentemente, a despesa pública”.

A importância da vinculação

“A saúde mental do bebé está directamente implicada com o seu bem-estar e o dos progenitores”, justifica Pedro Pires, membro da direcção do colégio da especialidade de Psiquiatria da Infância e da Adolescência da OM, que cita vários estudos para sublinhar a importância dos primeiros tempos de vida na estruturação da personalidade da criança. O especialista recorda John Bowlby, que no início da década de 40 do século passado formulou a teoria da vinculação e foi convidado pela Organização Mundial de Saúde a elaborar um documento sobre o impacto, nas crianças, da privação de cuidados maternos.

Os bebés “parecem estabelecer relações diferenciadas com a mãe e com o pai muito precocemente” e o estabelecimento de uma relação segura com ambos “é preditiva de melhores competências empáticas na idade pré-escolar e melhor saúde mental na idade adulta”, lê-se na conclusão de um dos estudos citados pelo colégio da especialidade de Psiquiatria da Infância e da Adolescência da Ordem dos Médicos para fundamentar o lançamento da petição.

Mais recentemente, com o avanço das neurociências, recordam, percebeu-se que o nosso cérebro se modela a partir da experiência relacional e que o período crítico para que tal ocorra são os primeiros anos de vida da criança: “O estabelecimento de uma relação mãe-bebé segura parece favorecer o desenvolvimento do hemisfério cerebral direito e, em particular, das conexões entre o sistema límbico e o sistema nervoso autonómico, estes responsáveis pela resposta ao stress“.

São conclusões que “vão ao encontro da evidência clínica” e que provam que os “bebés com relações de vinculação mais seguras têm maior capacidade de fazer face a situações adversas”.

Fonte: Público

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