
Como os neurônios sobrevivem à exposição da neurotoxina Botulinum tipo A

BONT/AINTOXICAÇÃO DE CÉLULAS LAN5 Induz alterações maciças de TRF. (A) Projeto experimental: 2 × 106 células LAN5/poço foram intoxicadas por 10.000 MSLD50/ml Bont/A, e pequenos perfis de RNA-seq dessas células foram comparados às células não tratadas (NT), revelando diferenças nos miRNAs e TRFs. As parcelas de vulcão de transcriptomos (FDR <0,05) foram geradas a partir de três triplicados biológicos por tratamento. A análise de expressão diferencial foi realizada usando a ferramenta Edger. (B) de mirnas. (C) Representação esquemática da clivagem de tRNA. (D) De Trfs. (E) Os níveis de TRF-5 lysttt foram drasticamente elevados nas células LAN5 BONT/A-Intoxicadas. Os dados representam n = 3 réplicas biológicas; ∗ P <0,05. (F, G, H) Classificação de TRFs por tipo de fragmento, aminoácido correspondente e comprimento. Crédito: Hermona Soreq
Em um estudo de pesquisa abrangente, os cientistas descobriram um mecanismo anteriormente desconhecido, explicando como os neurônios sobrevivem à exposição da neurotoxina botulinum tipo A (BONT/A), apesar da poderosa capacidade da toxina de bloquear a neurotransmissão.
A pesquisa, liderada pelo Dr. Hermona Soreq na Universidade Hebraica de Jerusalém, poderia ter implicações de longo alcance para tratamentos médicos e aplicações cosméticas dessa potente toxina bacteriana.
O trabalho aparece em Psiquiatria genômica.
Compreendendo a natureza dupla de Botulínios
As neurotoxinas botulínicas são as toxinas biológicas mais potentes conhecidas, com uma dose letal estimada de aproximadamente 1 ng/kg. Embora possam causar paralisia potencialmente fatal, eles paradoxalmente formam a base para inúmeras aplicações terapêuticas e cosméticas. Como os neurônios sobrevivem a essa toxina potente permaneceu um mistério – até agora.
“Há muito que sabemos que a toxina botulínica tipo A induz paralisia sem matar neurônios, ao contrário de outros sorotipos botulínicos”, explica o Dr. Soreq. “Essa característica única permitiu seu amplo uso terapêutico, mas os mecanismos moleculares que suportam a sobrevivência neuronal permaneceram amplamente inexplicáveis”.
Pequenos RNAs desempenham papel estranho
O estudo utilizou tecnologias genômicas avançadas para analisar alterações moleculares nas células de neuroblastoma humano após a exposição Bont/A. Enquanto pesquisas anteriores se concentraram principalmente nas mudanças no nível da proteína, este estudo revelou alterações dramáticas em pequenas moléculas de RNA, particularmente os fragmentos de RNA de transferência (TRFs).
Os pesquisadores descobriram que, após a intoxicação Bont/A, os neurônios acumulam TRFs específicos, especialmente aqueles derivados do tRNA de lisina (conhecido como TRFs 5’Lystttt). Esses fragmentos interagem com proteínas-chave e moléculas de RNA envolvidas na regulação da ferroptose, uma forma de morte celular programada caracterizada pela peroxidação lipídica dependente de ferro.
“O que mais nos surpreendeu foi o acúmulo maciço de TRFs em comparação com mudanças mínimas nos microRNAs”, observa o Dr. Arik Monash, primeiro autor do estudo. “Isso sugere que os TRFs servem como reguladores primários da resposta celular ao envenenamento de Bont/A”.
Bloqueando a morte celular, mantendo efeitos terapêuticos
A equipe de pesquisa demonstrou que os TRFs 5’LySttt suportam a sobrevivência neuronal, direcionando simultaneamente vários mecanismos que, de outra forma, desencadeariam a ferroptose. Esses TRFs interagem com uma proteína chamada HNRNPM e o mRNA de Chac1, bloqueando efetivamente as vias de morte celular, permitindo que os efeitos terapêuticos da toxina continuem.
Que mecanismo permite que os neurônios permaneçam vivos enquanto sua função está bloqueada? Esta pergunta intrigou os pesquisadores desde que a toxina botulínica foi desenvolvida pela primeira vez para uso médico. O presente estudo sugere que fragmentos específicos de tRNA atuam como salva -vidas celulares, impedindo que os neurônios se submetessem a ferroptose, apesar das condições estressantes induzidas pela toxina.
Esses TRFs protetores poderiam ser aproveitados terapeuticamente em outras condições em que a prevenção da morte neuronal é crucial? Os pesquisadores acreditam que essa possibilidade merece uma investigação mais aprofundada.
Mecanismos evolutivos de conservação e amplificação
Uma das descobertas mais intrigantes foi que aproximadamente 20% dos TRFs induzidos por BONT/A continham um motivo idêntico de sequência de 11 nucleotídeos: “CCGGATAGCTC”. Esse motivo compartilhado sugere uma resposta celular coordenada à intoxicação que foi conservada entre as espécies.
“Encontrar esse motivo repetitivo em culturas de células humanas e tecidos de ratos indica que identificamos um mecanismo de proteção fundamental”, explica o Dr. Joseph Tam, co-senior autor. “A conservação dessa resposta entre espécies de mamíferos sugere sua importância evolutiva”.
Como esse motivo repetitivo amplifica a proteção? Os pesquisadores levantam a hipótese de que, ao produzir numerosos TRFs que transportam a mesma sequência protetora, as células podem montar rapidamente uma defesa robusta contra o estresse induzido por toxinas. Essa “tempestade TRF” pode ser mais eficiente do que produzir moléculas de proteção individuais.
Esse mecanismo regulatório evoluiu especificamente para combater a intoxicação por botulínico ou representa uma estratégia celular mais ampla para sobreviver ao estresse? Isso representa uma área intrigante para pesquisas futuras.
Aplicações potenciais além do uso cosmético
Embora o BONT/A seja amplamente conhecido por suas aplicações cosméticas na redução de rugas, ele também desempenha um papel crucial no tratamento de várias condições médicas, incluindo distonia, hiperidrose e tremores essenciais.
“Compreender os mecanismos moleculares por trás dos efeitos de Bont/A pode levar a formulações terapêuticas aprimoradas com duração e eficácia otimizadas”, explica o Dr. Osnat Rosen, co-senior. “Isso pode ser particularmente benéfico para pacientes que necessitam de tratamentos regulares para condições crônicas”.
A manipulação dessas vias TRF poderia estender ou diminuir a duração dos efeitos de botulinum? Os pesquisadores acreditam que isso representa uma área promissora para o desenvolvimento de medicamentos que poderia permitir que os médicos personalizem a duração do tratamento com base nas necessidades individuais dos pacientes.
O estudo também revela por que diferentes sorotipos botulínicos têm perfis de segurança variados. Enquanto o BONT/A preserva a viabilidade neuronal através da proteção mediada por TRF da ferroptose, outros sorotipos como Bont/C e Bont/E não têm esse mecanismo de proteção, potencialmente explicando sua maior neurotoxicidade.
Direções futuras e implicações clínicas
A pesquisa abre vários caminhos para investigação futura, incluindo o desenvolvimento potencial de novas terapias direcionadas às vias TRF para proteger os neurônios em doenças neurodegenerativas ou para melhorar os efeitos terapêuticos da toxina botulínica.
A equipe do Dr. Soreq agora está explorando se mecanismos de proteção semelhantes operam em outros contextos, como doenças neurodegenerativas ou lesões cerebrais traumáticas, onde a prevenção da morte neuronal é crucial.
“Essas descobertas não apenas aprimoram nossa compreensão de como a toxina botulínica funciona, mas também fornecem informações sobre os mecanismos fundamentais de sobrevivência celular”, conclui o Dr. Soreq. “A identificação de TRFs como mediadores -chave da proteção neuronal pode levar a abordagens terapêuticas inteiramente novas para uma variedade de condições neurológicas”.
Mais informações:
Os fragmentos de tRNA de 5’lySttt suportam a sobrevivência dos neurônios intoxicados à botulínia, bloqueando a ferroptose, Psiquiatria genômica (2025). Doi: 10.61373/gp025a.0047
Fornecido pela Genomic Press
Citação: Como os neurônios sobrevivem à exposição da neurotoxina Botulinum tipo A (2025, 20 de maio) recuperado em 20 de maio de 2025 de https://medicalxpress.com/news/2025-05-neurons-survive-botulinum-neurotoxina-exposposição.html
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