
Cerca de 94% dos óbitos fetais acontecem em gravidezes vigiadas
A vasta maioria das mortes de fetos, bebés com menos de sete dias e até um mês de idade acontecem quando a mãe tem uma gravidez vigiada, conclui o relatório da Direção-Geral da Saúde (DGS) da Mortalidade Infantil divulgado esta quinta-feira.
O relatório abrange dados entre 2017 e 2021 e concluiu que 94% dos óbitos fetais e 83,8% dos óbitos neonatais resultam de uma gravidez vigiada. Os dados contrariam a ideia de que um aumento de mortes de fetos e de bebés com menos de um mês estão ligadas a um fraco acompanhamento da grávida durante a gestação.
A Renascença contactou várias fontes – a Entidade Reguladora da Saúde (ERS) e o Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (ISPA) – para perceber a proporção de gravidezes vigiadas neste tipo de óbitos depois de 2021, mas nenhuma disponibilizou dados.
Cristina Teixeira, investigadora do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), explica que “à medida que há cada vez mais intervenção durante a gravidez e durante o parto, as crianças sobrevivem — não morrem in utero, não morrem durante o parto, sobrevivem — e depois acabam por morrer mais tarde durante o primeiro ano de vida”.
“À medida que há cada vez mais intervenção durante a gravidez e durante o parto, as crianças sobrevivem e depois acabam por morrer mais tarde durante o primeiro ano de vida”
Ou seja, “a forte intervenção devido aos cuidados obstétricos e da vigilância durante a gravidez”, especialmente numa gravidez de risco, e o acompanhamento do recém-nascido em unidades de neonatologia ajudam a fazer a manutenção de vários problemas de saúde graves.
O Relatório da Mortalidade Infantil da DGS esclarece que os primeiros dias de vida são o período em que se concentram mais mortes de crianças até um ano. Nos primeiros sete dias, o recém-nascido está sujeito a complicações relacionadas com “prematuridade, complicações no parto e malformações congénitas”.
Mas, segundo o relatório da DGS, entre 2017 e 2021, tanto a mortalidade fetal tardia (a partir das 28 semanas de gestação) como a mortalidade neonatal precoce (até 24 horas vida do bebé) estavam em queda, situação que se mantém desde o início do milénio.
De facto, lê-se, a “taxa de mortalidade fetal diminuiu de forma acentuada em Portugal” e estabilizou em 2011, do mesmo modo que “a taxa de mortalidade infantil tem diminuído de forma sustentada ao longo das últimas décadas”. Portugal tem, aliás, a redução “mais expressiva” dentro dos Estados-membros da União Europeia (UE).
Dados do INE, citados pelo relatório até 2021, revelam que a taxa de mortalidade infantil esteve sempre abaixo das três mortes por mil nados-vivos desde 2018, ano em que se verificou o número mais alto da última década (3,3).
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