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Não é um cancro que vai parar Marta Pen: “Sinto que estou numa ótima forma”

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A Marta já esteve em Jogos Olímpicos, não pôde estar em Paris – muito especialmente devido ao problema de saúde – mas acredita que correndo agora tudo normalmente poderá estar em Los Angeles 2028?
Vou ser sincera. O atletismo é uma paixão, não é uma prisão e a verdade é que é muito exigente. Tens de ter mesmo paixão para conseguires fazer isto, é um bocadinho para malucos. Quero continuar a fazer atletismo até sentir que estou a ter prazer na modalidade. Sinto que já fiz a minha história, já aproveitei o atletismo, também estou neste processo que é bastante novo e, portanto, não tomo nenhuma prova por garantida.

Los Angeles (LA) está debaixo de olho, mas quero ter a certeza que todos os anos que eu fizer atletismo é porque, não só o meu corpo está disponível para isso, mas também que emocionalmente o meu coração continua a estar no atletismo. Tomei a decisão de continuar a treinar porque o meu coração ainda está muito no atletismo e na corrida e ainda sinto que há aqui uma parte de mim, mas quando essa parte passar, independentemente da parte dos tratamentos, não acho que faça sentido continuar. Portanto, pode ser em LA, pode ser antes de LA, pode ser depois de LA, não sei. Estou a viver uma prova de cada vez, quase um dia de cada vez.

Está habitualmente nos Estados Unidos [Seattle]. As condições de treino são muito diferentes do que teria cá?
A nível dos estudos universitários sempre fui vista como uma aluna especial, na medida em que conseguia fazer várias coisas ao mesmo tempo e era multifacetada, enquanto em Portugal parecia que era distraída porque fazia atletismo e não estava só focada na fisioterapia. A nível cultural existe um entendimento diferente, os atletas têm uma paixão e isso acaba por ser mais valorizado. Cá [em Portugal] senti bastante dificuldade em muitos momentos da minha carreira em conciliar tudo.

Hmm, hmm.
Atualmente também há outra coisa importante no meio-fundo, que não é só o treinador, é também o grupo de treino. Atualmente eu trabalho com 13 dos melhores atletas do mundo. Para além de ser um ambiente fantástico – com um grupo de pessoas muito boas e atletas fantásticos – faz como que o treino seja mais leve e tenha uma parte de partilha, em que a perceção do esforço é mais baixa.

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Não consigo comparar, apesar de também treinar muitas vezes sozinha em Lisboa, mas a verdade é que o treino com um grupo grande no meio-fundo faz uma diferença grande. Já estou nos Estados Unidos há 10 anos, é difícil pensar em voltar para cá porque me habituei a este contexto de equipa grande, a viver num país em que o atletismo é muito valorizado e acaba por ser diferente.

A Renascença falou recentemente com Duarte Gomes, o novo recordista dos 10 mil metros, que disse acreditar que no espaço de 2/3 anos todos os recordes nacionais vão cair
Acho que sim. Houve um grande avanço na parte técnica, existem treinadores melhores em Portugal. O treinador dele é bastante novo e tem uma base muito científica, sinto que os treinadores estão mais qualificados e temos atletas com muito potencial.

A verdade é que o nosso meio-fundo está com uma saúde muito boa atualmente e com atletas novos a ter resultados promissores e ainda com muitos anos à frente e com treinadores motivados. Não é só apoiar os atletas, os atletas precisam de treinadores que estejam motivados e os treinadores em Portugal são um bocadinho desvalorizados. Nos Estados Unidos, comparativamente, ser treinador é um trabalho a tempo inteiro e em Portugal é uma paixão e isso faz uma diferença muito grande.

Voltando ao Europeu de corta-mato, vamos ter equipas completas desta vez
Sim, esta é a primeira seleção desde 2012 em que a Federação Portuguesa de Atletismo leva equipas completas. Às vezes há críticas por se levarem equipas jovens completas por haver poucas esperanças em haver resultados excecionais, mas é importante investirmos nos atletas. Sei que podem chegar lá e serem os últimos da tabela, mas, com o investimento que existe em Portugal no atletismo, especialmente nas camadas jovens, levarem os atletas – os melhores deles – é o mínimo que se pode fazer. Não tem só a ver com o resultado agora, vão estar motivados no futuro. Os juniores de hoje vão ser os seniores de amanhã e é um prémio também para os treinadores, é um prémio para os grupos de treino e cria um ‘efeito borboleta’ muito grande.

Apesar de haver alguma controvérsia relativamente a levarem equipas jovens, acho que, se tivessem de cortar alguma equipa, não seria uma de jovens, seria a sénior. Sem jovens não existe futuro no atletismo e nunca se sabe o impacto que vestir a camisola da seleção vai ter no futuro. Eu, quando fui selecionada nas equipas mais jovens, fui das últimas a ser selecionada, mas, da minha equipa, só eu fui aos Jogos Olímpicos apesar de nos juvenis ser a que tinha menos resultados, mas aquilo criou um impacto enorme em mim. Fico contente por esta federação estar a levar equipas completas, é importante, estimula o atletismo.

É uma aposta do novo presidente Domingos Castro.
Acredito que o ‘funding’ da federação seja limitado e que é difícil chegar a todo o lado. Para se dar esta oportunidade vai ter que se tirar de algum lado e encontrar investimentos de outras formas, mas acho que é por aí. É um desafio exigente, mas sem atletas jovens não há atletas seniores. Independentemente dos resultados que os miúdos fizerem é mesmo importante. O caminho não se começa no pódio, começa com miúdos que vão ser atletas, atletas que vão representar Portugal e atletas que representam Portugal e que eventualmente chegam às finais e conquistam medalhas, é todo um processo.


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