
Jimmy Carter, o Presidente que trocou a realpolitik pelos Direitos Humanos
Todos os avanços e conquistas que liderou foram pautados pela defesa dos Direitos Humanos, hoje uma prioridade e não apenas uma nota de rodapé na política externa norte-americana, ainda que as acusações de mera retórica não descolem dos EUA até hoje.
Internamente, concentrou-se também em questões ambientais, numa postura muito à frente do seu tempo, fazendo aprovar legislação para preservar o território norte-americano e apostando em energias renováveis – enquanto Presidente, foi ele quem ordenou a instalação de painéis solares no telhado da Casa Branca.
De acordo com uma sondagem da Gallup há dois anos, a popularidade de Carter melhorou bastante quando comparada com os 34% de apoio que angariava quando abandonou a presidência em 1981, após cumprir apenas um mandato.
Para Barbara Perry, diretora de estudos presidenciais do Centro Miller de Assuntos Públicos na Universidade de Virginia, esta subida de popularidade ganha redobrada importância tendo em conta a recente presidência Trump.
“Ao olharem hoje para a presidência de Jimmy Carter, com tudo o que acabámos de passar com Donald Trump, parece especialmente bom. Foi ele que voltou a legitimar a presidência sem mentir ao povo norte-americano. Ele cumpriu tudo o que prometeu [durante a campanha].”
A mesma ideia é defendida pelo historiador Douglas Brinkley, autor da biografia A Presidência Inacabada, sobre os feitos e o legado de Carter. “Trump mentia com tanta regularidade. O cartão de visita de Carter era a total honestidade. A diferença entre os dois homens não podia ser maior.”
Acima de tudo, Jimmy Carter “usou a Casa Branca como trampolim para conquistas maiores, pelo que a sua presidência e pós-presidência estão intimamente ligadas”. É por isso, acrescenta Brinkley, que é hoje tido “como um dos grandes estadistas e humanitários dos séculos XX e XXI”.
Nem um ano depois de abandonar a presidência, o ex-chefe de Estado fundou com a mulher, Rosalynn, o Carter Center, em Atlanta, uma organização sem fins lucrativos que, até hoje, promove a defesa da democracia na observação de eleições, dos Direitos Humanos e da saúde pública à escala global.
“Creio que o grande legado pessoal de Jimmy Carter é o de que a decência pessoal realmente conta”, defendia em 2019 Kevin Sullivan, jornalista do Washington Post, em entrevista à Renascença. “Aos seus líderes as pessoas desejam – e quase imploram – bondade e decência. Também pretendem ver força e energia em alguém que lute por eles, mas penso que no final de contas Carter lembra-nos que as pessoas procuram um exemplo.”
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