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Cuidados Integrados Decisivos para um SNS Eficiente

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Os meus 40 anos de experiência clínica e os vários cargos de direção que tive oportunidade de exercer, há muito que me deram a certeza de que o salto qualitativo que ainda falta dar na saúde é o da integração de cuidados! Continuamos a ter bons exemplos, de tipologias diversas, mas que tardam a disseminar-se pelo País! A heterogeneidade regional nos Cuidados de Saúde, é assustadora e incompreensível para os cidadãos. No âmbito do IV Encontro Nacional de Cuidados Integrados, que decorreu em Coimbra no mês de outubro, tive oportunidade de apreciar vários exemplos extraordinários de modelos de Integração de Cuidados.

Lembro-me de Viana do Castelo, Guimarães, Matosinhos, Coimbra, Litoral Alentejano e Madeira, mas eram 23 as ULS que concorriam ao Prémio Nacional de Cuidados Integrados, instituído pela Portuguese Association For Integrated Care (PAFIC). A Dr.ª Adelaide Belo, que é a alma viva da PAFIC, luta há mais de 12 anos pelos cuidados integrados como única forma de dar uma resposta capaz aos Portugueses, cada vez mais velhos e doentes. Já conseguiu juntar, à volta das suas convicções, muitas pessoas das equipas de saúde e alguns decisores políticos.

 É nesse caminho que se insere a criação de 39 ULS no País, logo na alvorada do novo ano. Foi de supetão, mas talvez tivesse de ser assim. O poder partilhado entre o Hospital e os Centros de Saúde não é fácil de aceitar a quem está habituado a mandar sozinho. Talvez a ULS seja difícil de implementar num Hospital Central e Universitário, que sendo fim de linha, tem de aceitar doentes de todo o lado. Por outro lado, o seu cunho universitário, obriga-o a fazer investigação e a liderar ensaios clínicos, o que é difícil de compatibilizar com uma atividade assistencial guiada apenas por índices de produção eficiente.

 Portanto, poderá não servir a todos, mas o modelo de ULS é o que melhor responde às necessidades dos nossos doentes crónicos complexos. Tenho algumas ideias muito claras na minha cabeça, que gostava de partilhar convosco:

– O slogan do doente no centro da resposta de saúde é uma “balela” se não for assegurada a proximidade de cuidados;

– As especialidades básicas que podem garantir cuidados integrados de saúde no doente crónico são a MGF no ambulatório e a MI no Hospital;

– Num Sistema de Saúde ideal, cada utente deve ter um Médico de Família e um Internista de referência;

– O tratamento integrado de cuidados é especialmente importante nos doentes crónicos de gravidade significativa;

– As Unidades de Doentes Complexos visam dar cuidados integrais a doentes referenciados como grandes utilizadores do Sistema de Saúde. É centrado no Centro de Saúde com um Enfermeiro de Referência, sendo a estratégia definida pela equipa com a participação da MGF e MI;

– O Hospital tem de dar resposta aos doentes crónicos graves, com grupos especializados em doenças específicas em regime de consulta aberta, evitando o atendimento indiscriminado da Urgência nas descompensações (DPOC, IC, Oncologia, Metabólicas Hereditárias, Cuidados Paliativos);

– A Hospitalização Domiciliária do doente agudo de gravidade ligeira a moderada deve continuar a desenvolver-se, pois é um caminho certo para o futuro;

– O tratamento continuado no domicílio de doentes crónicos graves com equipas hospitalares especializadas (Demências, Cuidados Paliativos, Doentes Respiratórios/Ventilados) tem de ser assumido pelos hospitais como sendo da sua responsabilidade;

– A Hospitalização Domiciliária do Doente Crónico Complexo é já usada nos Países da Europa do Norte, principalmente nas demências. A manutenção do doente em sua casa mantém durante mais tempo a sua autonomia e capacidades cognitivas;

– Para todas as respostas de Medicina de Proximidade é necessário encontrar formas de financiamento atrativas, para que haja interesse por parte dos CA na sua implementação;

– O empoderamento dos Cuidadores, dando-lhes a formação adequada para aumentarem a sua competência e autonomia, reforça a humanização dos Cuidados e é crucial para uma boa gestão dos recursos.

Sendo verdade que as Unidades Locais de Saúde (ULS) propiciam a comunicação entre os vários níveis de cuidados, elas não são só por si uma garantia para a obtenção de Cuidados Integrados de Saúde. Depende das pessoas e da sua vontade em fazerem coisas diferentes, em benefício da pessoa doente. Será que não poderia ser definido um cardápio obrigatório de respostas em cuidados de saúde, adaptado a cada ULS, acompanhado do respetivo envelope financeiro motivador da sua execução? Enquanto isto não for feito, podemos ter ULS em todo o País, mas o acesso aos Cuidados de Saúde continuará a ser desigual.

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Fonte: Saúde Online

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