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SPMI aponta erros nas propostas sobre urgência do plano de emergência

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A Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI), a convite do Gabinete da Ministra da Saúde, participou, no dia 10 de maio, numa sessão de trabalho sobre o Plano de Emergência da Saúde. Teve cinco minutos para dar o seu contributo.

Em cinco minutos, a SPMI apresentou os quatro pontos que considera essencial resolver: baixa eficiência dos serviços hospitalares e necessidade de alterar o modelo de organização para um trabalho eficiente e com avaliação de resultados na melhoria da saúde dos doentes; falta de especialistas de Medicina Interna (MI) e baixa atratividade na escolha dos novos médicos para esta especialidade (250 vagas não preenchidas nos últimos 2 anos), fulcral no funcionamento hospitalar; resolução dos casos sociais e internamentos indevidos que impedem o funcionamento dos serviços hospitalares (2164 camas ocupadas indevidamente); excesso de afluência aos serviços de urgência (SU) de situações não urgentes (mais de 40%) que coloca em risco a avaliação de doentes graves e emergentes e incapacidade de escoar os doentes com decisão clínica efetivada por falta de vagas no internamento hospitalar.

“No dia 29 de maio foi publicado o plano de emergência que, no nosso entender e sobre os temas expostos, confirmou a precipitação, incongruência e pró-forma de todo este processo”, comenta a SPMI em comunicado de imprensa.

A SPMI afirma que o grupo que se dedicou a este assunto identifica corretamente o principal problema: o recurso indevido de situações agudas não graves aos serviços de urgência, bem como a incapacidade de drenagem dos doentes com indicação de internamento por falta de vaga nos serviços. Isto é, problemas a jusante e montante. Mas esquece a conclusão óbvia: “o problema e caos da urgência não está na urgência, está no antes e depois! Por isso mesmo é muito difícil fazer comparações com outros serviços de urgência na Europa e Mundo quando Portugal é o país da OCDE com maior número de episódios de urgência, cerca de 70 episódios/100 habitantes por ano, quando o segundo é a Espanha com metade deste número. Ainda para perceber melhor este erro, bastará ver a classificação dos mesmos países sobre o acesso a uma consulta aberta no espaço de 3 dias. Aqui o gráfico é em espelho, isto é, Portugal está em último lugar e quem está em primeiro lugar para responder a uma consulta aberta é quem tem menos episódios de urgência”, afirma Luís Duarte Costa, presidente da SPMI.

Para a SPMI, as alternativas de acesso aos cuidados de saúde serão todas bem-vindas, mas falta explicar como vão ter médicos para os centros de atendimento clínicos, “que são um novo nome para os antigos SAP (serviços de atendimento permanente)”. Além disso, observa a SPMI, as tentativas de reencaminhar estes doentes para consultas nos cuidados de saúde primários (CSP) falharam não por falta de vagas nos CSP, mas por recusa desses mesmos doentes. “Pior, chegam a sugerir que uma das opções para retirar doentes com alta clínica/casos sociais é através da otimização da hospitalização domiciliária quando o problema é exatamente a recusa do doente e família de o levar para casa e não a possibilidade de as equipas de Medicina Interna ou Medicina Geral e Familiar o tratarem em casa, pois esses doentes não precisam de cuidados médicos, precisam de apoio social ou de enfermagem”, lê-se no comunicado. “Para terminar, concluem o que não se pode concluir: a resposta é a criação de uma especialidade de Urgência. A criação de uma Especialidade médica sempre foi pelo melhor interesse do doente, quando há um conjunto de conhecimentos que necessita dessa especialização”, acrescenta a SPMI.

“Aqui o interesse é única e exclusivamente destes médicos e do gestor, não do doente. De tal maneira é um interesse particular que fazem questão de deixar escrito que a especialidade reduz o risco de substituição de médicos por outros profissionais. Ora, qualquer bom gestor dirá o oposto: devemos substituir todas as funções menos diferenciadas por alguém que o faça de forma mais pragmática e com menos custos, melhorando eficácia e produtividade de ambos os profissionais, médicos e não médicos.”

A SPMI diz que não há e nunca haverá uma única especialidade capaz de resolver tudo. “Nunca haverá alguém que esteja bem preparado para identificar e resolver síndromes gripais, lombalgias e gastroenterites, tratar um edema agudo do pulmão, cetoacidose diabética, sépsis e choque, fazer um cateterismo coronário, fibrinólise num AVC, operar uma apendicite, colecistite ou ainda operar um fémur partido! Ah, e ainda estar bem familiarizado com tudo isto, mas em idade pediátrica”, confirma Luís Duarte Costa.

De acordo com a SPMI, criar uma especialidade para fazer formação aos médicos sem especialidade é excessivo por um lado e deficitário por outro: excessivo porque é possível fazer formação sem criar uma especialidade; deficitário porque não há programa de formação capaz de preparar um único médico para identificar sinais de alarme, considerar todos diagnósticos diferenciais e conhecer os vários exames complementares indicados para resolver a questão urgente. Para isso, continua a SPMI, é preciso conhecer todo o espectro de sintomas e sinais, das doenças mais simples às mais complexas e não o oposto, num serviço em que o médico tem contacto com esse doente uma única vez. Para Luís Duarte Costa, “o serviço de urgência será sempre multidisciplinar e não de uma única especialidade”.

A SPMI diz que todos os médicos, em particular os internistas, estão interessados e disponíveis para a ajudar a resolver o problema das urgências. Para um plano de emergência haverá lugar a medidas a curto prazo, como o reencaminhamento das situações não urgentes para os CSP, telemedicina, consultas abertas, intervenção de enfermeiros ou farmacêuticos na sensibilização e melhoria da literacia dos doentes, transferência de doentes com alta clínica para camas da rede social ou privada ou o reforço das equipas de urgência com médicos de todas as outras especialidades hospitalares, enumera a SPMI. A longo prazo, melhoria dos sistemas informáticos, redefinição dos modelos de organização hospitalar e dos CSP que promovam melhor eficácia, produtividade e melhores resultados na saúde dos doentes. De acordo com a SMPI, só assim teremos a capacidade de avaliar cada doente no local certo pelo médico certo e não numa urgência em que há uma desconfiança de parte a parte.

“Estamos disponíveis para trabalhar com a Ministra da Saúde, mas sem a chantagem de criar uma especialidade de urgência na Assembleia da República se ela for, novamente, chumbada no órgão próprio da Ordem dos Médicos, a Assembleia de Representantes, como aconteceu por larga maioria em dezembro de 2022. Aproveite esta força motriz dos hospitais e SNS que é a Medicina Interna e, acredite, conseguirá uma verdadeira mudança em benefício dos doentes e não de um grupo de médicos e gestores afastados da realidade”, conclui o presidente da SPMI.

PR/HN

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