Sindicato critica “sobrecarga horária” dos enfermeiros do IPO do Porto
O Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP) afirmou esta terça-feira que os enfermeiros que trabalham no Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto estão “exaustos” com a “pressão de horas extra”, que “já levou a situações de ‘burnout’ e absentismo”.
“Os colegas não aceitam fazer mais trabalho extraordinário. O cansaço é tremendo e o absentismo aumenta porque as condições de sobrecarga levam a ‘burnout’. Estes colegas, além do trabalho extraordinário que é pago, têm em débito 23 mil horas”, disse a coordenadora da direção geral do Porto do SEP, Fátima Monteiro.
À porta do IPO do Porto, onde esta manhã estão concentrados cerca de duas dezenas de enfermeiros, os apelos são por melhores condições de trabalho e um melhor Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Além de bandeiras do SEP, os enfermeiros empenham cartazes com frases como “Não basta pagar trabalho suplementar. É urgente admitir mais enfermeiros” ou “Trabalho extraordinário programado, não” e “Ter vida própria = 35 horas semanais”.
À Lusa, Fátima Monteiro descreveu situações de sobrecarga horária, dando exemplos de enfermeiros que trabalham 12 horas consecutivas ou são chamados nas suas folgas.
“Os enfermeiros sentem-se discriminados em relação a outros profissionais de saúde. Todos fazem um trabalho extraordinário, mas a uns o trabalho é pago e aos enfermeiros não. Em causa está o défice estrutural de enfermeiros. Faltam cerca de 100 enfermeiros neste hospital para dar uma resposta em qualidade e segurança aos utentes”, disse a responsável sindical.
De acordo com o SEP, há enfermeiros do IPO do Porto que “já começaram a apresentar declarações a dizer que não estão disponíveis para fazer mais trabalho extraordinário”, um cenário ao qual, disse Fátima Monteiro, o conselho de administração não é alheio.
“O conselho de administração não encontra soluções. Queixa-se que é o próprio Governo que não autoriza”, referiu, apontando que em situação de sobrecarga estejam entre 400 a 500 enfermeiros no IPO do Porto.
A agência Lusa contactou a administração do IPO do Porto que garantiu que, neste hospital, todo o trabalho que os profissionais de enfermagem realizam para além das horas contratualizadas “é remunerado em trabalho extraordinário, independentemente de serem turnos de manhã, tarde ou noite, e de serem realizados em dias de semana ou dias de descanso, independentemente do grupo profissional”.
“No entanto, o pagamento do trabalho extraordinário nunca é pago no mesmo mês em que é realizado, de forma a poder ser efetuado o devido apuramento e correto processamento. É, por isso, falso que o IPO do Porto tenha mais de 22.000 horas extras realizadas e que não foram pagas”, garantiu.
Reconhecendo que tem de recorrer a trabalho extraordinário, o conselho de administração adiantou que está a implementar medidas de reorganização do trabalho para procurar reduzir a dependência do recurso a horas extra.
“No entanto, só com contratação de mais profissionais será possível resolver esta necessidade. É importante salientar que, desde dezembro de 2022, o IPO do Porto não obteve autorização de novos postos de trabalho de enfermagem”, lê-se na resposta enviada à Lusa.
Ainda segundo dados da administração deste hospital oncológico, o IPO do Porto tem 806 enfermeiros, sendo que 71 são contratos a termo para substituição de ausências temporárias.
O hospital acrescentou que “não existem enfermeiros contratados a termo para satisfazer necessidades permanentes da instituição”, rejeitando as críticas sobre falta de profissionais para garantir qualidade assistencial
“Informamos que se encontra assegurada a segurança e qualidade dos cuidados de saúde prestados ao doente oncológico no IPO do Porto”, concluiu.
LUSA/HN
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