Os enfermeiros (também) são cientistas
Lara Cunha: Enfermeira Especialista em Enfermagem Médico-cirúrgica; Research Fellow na Unidade de Investigação em Ciências da Saúde: Enfermagem da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra
Os enfermeiros não são apenas prestadores de cuidados nos cenários clínicos. Conquanto historicamente esse papel esteja inculcado, os enfermeiros também se posicionam na investigação científica e na inovação das ciências da saúde.
Testemunha-se uma mudança paradigmática na perceção da enfermagem como uma disciplina científica autónoma e robusta. Os cientistas de enfermagem investigam ativamente a natureza das patologias, soluções inovadoras de prestação de cuidados de saúde e a abordagem das tecnologias e da inteligência artificial que visam melhorar a vida dos doentes (através da enfermagem de precisão) e impactar o futuro dos cuidados de saúde. Com o conhecimento científico e expertise prática, os enfermeiros podem teorizar, formular hipóteses, projetar e conduzir estudos científicos significativos com impacto tangível na prática clínica. Norteada pela prática baseada em evidências, a investigação em enfermagem tem contribuído para a diminuição a taxa de infeções associadas aos cuidados de saúde (IACS), à diminuição dos períodos de internamento e readmissões hospitalares, à gestão da doença crónica e ao ajuste do plano de cuidados centrado na pessoa e família, ao envelhecimento ativo, à transição dos cuidados de saúde comunitários e hospitalares e à integralidade deste processo, entre outros.
Os investigadores de enfermagem geralmente são imbuídos nas organizações ou instituições, que desenvolvem estudos sobre fenómenos integrados nas prioridades organizacionais. Contribuem para o avanço do conhecimento em áreas específicas de interesse, maioritariamente em colaboração com equipas multidisciplinares. Os cientistas de enfermagem tendem a ter responsabilidades mais amplas e um maior nível de autonomia na formulação, conceção e gestão de projetos de investigação. Frequentemente assumem funções de investigadores principais, de liderança de equipas de investigação multicêntricos e multidisciplinares. Ademais, acumulam funções de docência nas instituições académicas, com responsabilidade de formação das gerações futuras de enfermeiros e profissionais de saúde.
A presença de cientistas de enfermagem nos hospitais não só promove descobertas científicas inovadoras, como também inspira uma cultura de excelência entre pares que permeia toda a instituição. Embora nem todos os hospitais possuam os mesmos recursos, é imperativo que as administrações reconheçam o valor estratégico de investimento em investigadores em ciências da saúde, nomeadamente cientistas enfermeiros. Investir em cientistas de enfermagem não é apenas uma escolha estratégica de melhoria contínua, mas um imperativo ético que garanta cuidados de saúde de qualidade e seguros e baseados na melhor evidência científica.
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