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Esclerose Múltipla

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Cristiana Lopes Martins, fisiatra nos hospitais de Portimão e Lagos (Unidade Local de Saúde do Algarve) e na Unidade Local de Saúde do Litoral Alentejano; Eduarda Afonso, fisiatra no hospital de Faro (Unidade Local de Saúde do Algarve)

A Esclerose Múltipla (EM) é uma doença inflamatória crónica do Sistema Nervoso Central e corresponde a uma das principais causas de incapacidade por patologia neurológica em adultos jovens. Estima-se que em Portugal existam 8000 doentes com esta patologia.

A EM surge habitualmente em jovens adultos e vai progredindo ao longo do tempo. A degeneração neuronal pode afetar qualquer área do Sistema Nervoso Central, pelo que as manifestações desta doença são variadas e incluem disfunções motoras (como dificuldade na marcha), disfunções sensitivas, alterações na comunicação, alterações da deglutição, alterações cognitivas, alterações neuropsicológicas, alterações urinárias (como incontinência) e disfunção sexual, entre outras. Dada a multiplicidade de apresentações clínicas, a repercussão na estrutura, na função e autonomia do doente é enorme, tal como as consequentes implicações na vida pessoal, familiar, profissional e social. Todos estes pontos constituem o campo de atuação da Medicina Física e de Reabilitação (MFR).

De acordo com as manifestações clínicas, os médicos fisiatras (especialistas em MFR), vão estabelecer os níveis necessários de intervenção, visando minimizar o impacto funcional destas sequelas, otimizando o nível de capacitação e reduzindo a restrição à participação dos doentes. Ou seja, favorecendo a acessibilidade e integração na sociedade, com a melhor qualidade de vida possível. O foco de atuação dirige-se também à respetiva família, reduzindo a carga sobre o cuidador.

Para tudo isto, é necessário o trabalho síncrono de um grupo de profissionais (médicos, terapeutas, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, nutricionistas, técnicos de ortoprotesia e de psicomotricidade, entre outros) que interagem de forma multiprofissional e interdisciplinar. Só desta forma é possível tratar uma patologia vão variável e complexa, em que as necessidades terapêuticas vão muito além do mero medicamento. Assim, poderão ser necessárias estratégias de reabilitação neuropsicológica (reeducação cognitiva e comportamental, adaptação funcional e psicoterapia) e neuromotora (integrando programas de fisioterapia, terapia ocupacional e terapia da fala). O uso de fármacos (sob diversas formas de aplicação) e o estudo, adaptação, implementação e treino de produtos de apoio são estratégias comuns e paralelas a todos os níveis de intervenção, de forma a restaurar a função (quando possível) e/ou a associar estratégias compensatórias da mesma. Soma-se ainda o estudo de supressão de barreiras arquitetónicas no domicílio e no local de trabalho.

Assim, a EM, dado o seu caráter degenerativo progressivo, com repercussões estruturais e funcionais que se vão somando ao longo do tempo, é uma patologia inerente à MFR. O apoio biopsicossocial prestado ao doente e familiares/cuidadores é fundamental para a potenciação da atividade e participação do indivíduo na sociedade, abordando a pessoa holisticamente, auxiliando-a a otimizar a função (física, cognitiva, neuropsicológica) e favorecendo a sua plena integração familiar, domiciliária, laboral e social.

É por isso fundamental a manutenção de programas de reabilitação periódicos, assim como o acesso dos doentes aos mesmos, intensificados em épocas críticas de risco de agravamento, em função das situações de incapacidade geradas pela doença, com o objetivo de possibilitar o máximo nível de desempenho aos indivíduos, permitindo-lhes, com o devido enquadramento, continuar a atingir os seus próprios propósitos e sonhos.

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