Reabilitação respiratória. Apenas 2% dos doentes têm acesso
Quais as patologias que mais exigem reabilitação respiratória?
A reabilitação respiratória corresponde a um programa multidisciplinar, baseado em evidência científica, dirigido a todas as pessoas com sintomas relativos à sua doença respiratória. São pessoas que, de alguma forma, veem condicionadas as suas atividades diárias, como é o caso de doentes submetidos a procedimentos cirúrgicos (torácicos e abdominais superiores), com doença pulmonar obstrutiva crónica, patologias da pleura, fibroses pulmonares, patologia neuromuscular, ou doentes oncológicos sob tratamentos de radioterapia e até mesmo quimioterapia.
“Os fumadores não devem ser excluídos do programa de reabilitação respiratória. Esta pode ser uma janela de oportunidade para uma intervenção no contexto de cessação tabágica.”
Qual a importância deste tipo de intervenção?
A reabilitação respiratória é uma intervenção global e multidisciplinar, adaptada a cada doente, com o objetivo de melhorar os sintomas incapacitantes e/ou limitantes no seu dia a dia, de incrementar a autonomia e socialização através da estabilização e de resolver as queixas clínicas com evidente melhoria da dispneia e da qualidade de vida. A aprendizagem e autogestão da doença e respetivo tratamento levam a que o próprio doente consiga identificar as exacerbações e saiba o que fazer antecipando o tratamento. Esta abordagem contribuirá para a diminuição das idas do doente ao serviço de urgência, a redução da duração do internamento hospitalar (se for o caso) e, consequentemente, o decréscimo dos gastos em saúde para o doente e para o Estado.
Por que razão este tratamento ainda não chega a todos os doentes?
A reabilitação respiratória não é muito difundida, e não há muitos centros especializados nesta área em particular, ao contrário da reabilitação músculo-esquelética. Os centros especializados nesta área estão concentrados essencialmente nos grandes centros urbanos, o que limita a acessibilidade. Por outro lado, carece de uma equipa multidisciplinar, cuja logística é, por vezes, de difícil articulação. É preciso insistir na mudança de paradigma instalado, do tratamento da doença para a ação na sua prevenção.
“É de extrema importância dar a conhecer a reabilitação respiratória e os seus benefícios, junto da sociedade civil e dos profissionais de saúde.”
A reabilitação respiratória implica trabalho de uma equipa multidisciplinar. Que valências são mais importantes?
Todas as valências são igualmente importantes, começando pela disponibilidade do doente e dos seus cuidadores, passando pelo fisioterapeuta respiratório, médico, enfermeiro e nutricionista, e envolvendo ainda um especialista em Psicologia e um assistente social. Diria que a base desta pirâmide é sempre a disponibilidade e dedicação do doente e dos respetivos cuidadores.
Este tipo de cuidados, nas situações menos graves, poderá e/ou deverá ser realizado nos cuidados de saúde primários?
Como referi anteriormente, as distâncias aos centros de reabilitação são restritivas, por isso, enquanto profissional de saúde, veria com muita satisfação a sua extensão para locais mais próximos da população, associados aos cuidados de saúde primários. Obviamente que a extensão para estas localizações seria para casos selecionados, menos graves e/ou casos já trabalhados em centros mais diferenciados e que pudessem ser posteriormente referenciados para a continuação do programa de reabilitação mais perto do domicílio.
“Apenas 2% dos doentes que deveriam fazer reabilitação respiratória têm efetivamente acesso, demonstrando que ainda existe um longo caminho a percorrer nesta área.”
CG
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